terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Coração da terra


Apesar da ausência
Apesar do medo
Apesar da busca incessante
De todos os segredos ocultos
De outros tempos
De outros vendavais
De outros cansaços invernais

Apesar disso tudo
As flores ainda crescem
Moldando pequenas grutas
Nos caminhos de xisto
Onde o vento
Decalcou as sombras
Em forma de matagais…

O granito continua
Na força de todas as gentes
Com mãos calejadas
E o doce cantar de Maio
No coração da terra

Onde vão os tempos
No seio das flores
Em todas as calçadas desertas?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Fluxos Migratórios - O resistentes (cont)


João, filho da minha prima Natália e sua esposa Aida

Um casal na casa dos 45/50, emigraram durante um curto período de tempo para a Suissa, tal como os seus irmãos, mas cedo decidiram voltar.

Ele aprendeu a arte da construção civil e enquanto a sua saúde o permitiu, foi por estes locais, que governou sua vida, construindo de raiz, ou reconstruindo as já existentes.



A pedra, de xisto, o granito, é abundante nestas paragens e a sua capacidade de adaptação ao local, faz-se sentir pela forma como os seus olhos desenham traços novos e as suas mãos os modelam, ao jeito de quem sabe que a força é arrancada muitas vezes de dentro para fora. Enquanto isso, e nas horas vagas, a sua esposa trata de alguns trabalhos do campo, com a sua ajuda, sempre que o tempo lhe permite.









As suas filhas emigraram para a Suissa, onde se encontram neste momento

Fluxos Migratórios - O resistentes (cont)





José Marques e Deolinda Paiva

Após o fluxo migratório que levou muitos para vários pontos da terra, desde Brasil e França (com maior incidência nos anos 60), logo seguida de Lisboa, onde os meus pais se incluem.


Os meus pais viveram cerca de 30 anos em Lisboa, mas é na aldeia que estão, desde que decidiram regressar. Muito fizeram pelas suas terras, que sempre cuidaram para que não ficassem de velho.
Ainda hoje quando cá venho me dirijo a alguns locais, onde posso constatar os vestígios das suas mãos ainda quentes, a não deixar que o mato avance e as silvas tomem conta da relva fresca. O meu pai gosta de cuidar das videiras; podar, atar, sulfatar e depois as vindimas. A minha mão foi a primeira mulher na aldeia a quebrar com o mito, de que há trabalhos específicos para mulheres e outros para homens. Assim, a aprendeu com meu pai a podar e a atar as videiras. Lembro um ano em que estava de férias, em que tentei aprender, mas logo desisti, preferindo, deitar-me a olhar o céu, lembrando os tempos de menina, em que ia com o gado para os lameiros e me deitava e rolava na erva.

É em Lisboa, que vivo desde os meus 10 anos de idade, onde estudei, constitui família e trabalho. Surge aqui uma nova geração, a minha, que decide então aventurar-se na busca de melhores condições de vida. Os que ficaram na aldeia, resolvem sair já adultos, e desta feita, é Suissa que os recebe. Continuo sempre que venho à minha aldeia, a tentar saber que é feito desta e daquela pessoa. Uns família outros não, todos se foram, todos eles tentaram sair deste ermo, onde só o vento sabe de todos os caminhos, só a brisa sabe de todos os afagos nocturnos, quando a lua quase nos roça as cabelos.