sexta-feira, 21 de março de 2014

Quem conta um conto

(...)Ajuizando todos os valores recebidos e a transmitir, colocou-se logo no início da aldeia, um cruzeiro em granito. A vida é assim por estas bandas. A força do granito, evidenciando a força da vida revestida de sofrimento e do abandono, que por consequência, os condenou ao isolamento. Enfim tudo o que se designa por viver em desatino, pelas leis de Deus ou da Igreja. Seio materno de todos os que nasceram, e por aqui morreram, sem poderem carregar a mesma cruz, mas ostentando pela vida fora, outras não menos pesadas(...)


Quem conta um conto....

Foto tirada na aldeia; Picão (Serra do Montemuro)

quinta-feira, 20 de março de 2014

Quem conta um conto

(…)Mas como diz o ditado, “o hábito faz o monge”. Visto-o e dispo-o sempre que preparo a mala para mais uma viagem à minha aldeia. De novo para recontar pedras e pisar terra molhada. De novo para desenterrar memórias. Enfim, preparada para o regresso às minhas origens. Moção uma aldeia esquecida, entre serranias. Esquecida por alguns, ali, nados e criados. Muitos não querem saber destes lugares. A fome fê-los arregaçar as mangas, e trabalhar a terra para poderem sobreviver. Outros horizontes nasciam nos seus olhos. Outros mundos se construíam no seu olhar. Outros nem querem lembrar do que passaram. Preferem ficar por lá, onde a vida lhes sorriu. E aqueles a quem vida sempre lhes permitiu sorrir, estão sempre à espera de novos movimentos nas suas mãos, entre o dar e o receber. Esquecida está também pela autarquia. Alimentem-se muitos cabritos, engordem-se e façam a troca de favores, com um simples aperto de mão e um bem-haja. Satisfazem-se assim todos os que têm fome de terra e de semear para colher, assim como os que tem fome de poder a roçar ainda o tempo dos senhores feudais. O bem acima e tudo, porque o tudo, esse é ponto assumidamente diferente para quem mexe na terra. A mistura só existe, quando se junta farinha de centeio com farinha de milho. Dois cereais abundantes e que aceitam as rajadas de vento como ninguém. Curvam-se, mas não se deixam abater mesmo com espigas no chão. Um exemplo da força da terra. E neste comércio local, onde as trocas habituais, se fazem muitas vezes sem palmadinhas nas costas, mas mãos nos bolsos a descansar da última refeição, se consegue algum benefício para estas terras. Muitos se alimentaram, para depois se esquecerem das sementes que deitaram à terra(…)

Dolores Marques

De um livro que me tem, de um livro que um dia…talvez lerão

Nascerão as flores


Ao cair das folhas
fecharei os olhos
e encherei a terra
de outros aromas

Nascerão as flores
de todas as cores
viverão para sempre
os livres amores

Ao cair das chuvas
lembrarei dos ventos
e dos rosmaninhos
pelos caminhos

Nascerão as flores
de todas as cores
viverão para sempre
os livres amores

Ao crescer-me o ventre
abrirei para sempre
as portas ao céu
restarei somente eu

Nascerão as flores
de todas as cores
viverão para sempre
os livres amores

Dolores Marques
Era Primavera quando tirei esta foto na Serra do Montemuro