sábado, 29 de abril de 2017

quarta-feira, 26 de abril de 2017

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Caminhos das sombras

Há dias que mais parecem cruzes!
Confiam nos olhos de quem escreve um Poema sem as mãos.
Mas, se as mãos bloquearem os olhos, a cegueira será um poema interdito. Ou Não?
Não sei até que ponto, estará pronto o Poema, face ao degredo dos sentidos oculares.
Hoje, até a poesia grita por conta dos ermos nos olhos abertos.
E digo-vos muitas coisas nunca pensadas, enquanto trancados os olhos à verdade escrita pelo tremor das mãos.

E digo-vos dos espaços, onde se escrevia sobre um vendaval desencadeado nas sombras ocultas dos olhos.
Nem sempre os olhares desmaiam, ante o linho amarelecido na arca de madeira. Ali tudo é um sentido único, na flor ainda em aberto da planta regada e não chacinada por pontos em cruz.
Nem sempre os sentidos são reclamados pela luz a nascer no ventre da madrugada.

A luz nem sempre aceita quem abomina os passos incertos ainda a pisar a terra seca e árida, cuja sagração dos deuses que a consomem nem sempre é um facto consumado.
A terra onde o Poema se fez luz, à custa de muita revolta pelo bico férreo do arado.
A terra onde o Poema castigado, sempre foi humilhado pela luz consignada ao tempo das sombras.
A terra, cujo ventre é ainda a clara luz, onde nascerão novos frutos, para se saciarem fomes de uns certos movimentos, que nascem sem as sementes lançadas à terra.

Hoje tudo é em debandada, pelos caminhos de Deus.
A voz que gritará de um fundo de vida, para que se saiba onde escrever um poema de terra.
A voz que sucumbirá ante um alvoroço na noite provocado por um raio de luz crescente.
A voz de sempre, que fará surgir fios de águas nos caminhos, onde se dão partos de luz.

Mas, continuo com esta convicção redobrada sobre um passado de terra, cujos olhos desenterram, e o fazem seguir viagem pelos caminhos das sombras.
E continuo assim a escrever sobre esta maldita fome, onde até a poesia sofre por conta de algumas correntes castradoras, e não sofredoras, até à última contagem de uns versos soltos nos penedos.

Dakini Pseudónimo de Dolores Marques