quinta-feira, 27 de maio de 2010

De Seu Nome Mondego


Era natural do Moção
De seu nome Mondego
Raça era Coelheiro
E não lhes dava sossego

Fui eu que o criei
E lhe dei o ensino
E assim o eduquei
Para ele tocar o sino

Em qualquer parte que se encontrasse
Ele que tinha muito tino
Sempre que eu o mandasse
Lá ia ele tocar o sino

Tocava-o no Moção
E também na Desfeita
Fazia-o com tanta convicção
Mas que coisa tão bem feita

Além de tocar o sino com primor
Disso não podemos duvidar
Era um perfeito caçador
E os coelhos ía agarrar

Agarrava bém os coelhos
Vinha-os trazer à mão
Conhecia muito bem o dono
Que o acarinhava com gratidão

Tinha ainda outra codição
Que tenho de realçar
Também era um grande ladrão
Roubava os coelhos aos outros

Para ao dono os levar

Os rapazes das aldeias vizinhas
Que ao Moção vinham namorar
Diziam-lhes que ele tocava o sino
Eles nem queriam acreditar

Pediam-me então a mim
Para o poderem precisar
Queriam vê-lo tocar o sino
E só assim acreditar

Em qualquer parte que se encontrava
Logo que ouvia chamar
Como sempre não tardava
E a meu mando lá o ia tocar

Tudo isto que eu escrevo
É verdade e com o coração
Sou o Ananias Correia
Da aldeia do Moção


Enviado por Ananias Correia

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uivos Famintos dos sem terra, sem pão

(Foto Dolores Marques)
*
Rio aberto
Morada acesa
Cheias de estios
Desgovernadas
Estouvadas
Tresloucadas
Cantam ao vento
O seu novo alento
*
Nas serras
Roubam aos céus
O arremesso
Do voo alto dos falcões
Pardacentos
Malhados e tresmalhados
Exímios na arte
De tão bem saberem voar
Chocalham as pedras do monte
Graníticas no seu pastorear
*
Cajados à solta
Berros que largam ecos pelo chão
Em vez do pregão
Ao tempo
Pelos que vão
Nos uivos famintos
Dos sem terra
Dos sem pão
*
(Poema inspirado nos ainda resistentes que vivem nas terras junto à Serra do Montemuro e se dedicam á pastorícia)



quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quadras alusivas à Senhora da Livração

Senhora da Livração
Santa mãe protectora
Acompanha a povoação
De gente tão trabalhadora

Ela é a mãe de Cristo
Quer se acredite ou não
Sofre com tudo isto
Pelas gentes do Moção

Ela a todos quer valer
Na hora de conflitos
Não os quer ver sofrer
São seus filhos aflitos

Mãe de Cristo e nossa mãe
Ela é nossa protectora
Por nos fazer tanto bem
Obrigado Nossa Senhora

Para saber o tempo que fazia
Os homens olhavam para o Céu
Mas quando passavam por Maria
Tiravam o seu chapéu

Vi-os tirar o chapéu
Também os vi benzer
Naquele olhar, que era o seu
Deviam estar a agradecer

Pela vaca que esteve doente
E de repente ficou curada
Logo agradece o crente
A N. Senhora Emaculada

À Senhora da Livração
Rezo todos os dias
Para me dar protecção
E livrar-me das más companhias.

Quadras enviadas por Ananias Correia, a quem eu agradeço

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Promessas


A imagem de Nossa Senhora da Livração para além de muito bonita é também muito valiosa, pois tem mais de 200 anos, e muito venerada.
Eu recordo-me a partir dos meus 12 anos, que as raparigas do Moção e de algumas aldeias vizinhas, faziam promessas a Nossa Senhora da Livração para que livrasse os namorados de cumprirem o serviço militar e então era vê-las em volta da capelinha, muitas vezes às escondidas, para não darem que falar. Mas também me recordo de pessoas de aldeias bem distantes, como Mós e Eiriz virem ali cumprir promessas. Promessas essas que consistiam em arranjar lá na povoação algumas crianças até ao número de 9 a quem davam cinco tostões, para andarem em volta da capelinha a rezar o terço (novenas) em agradecimento a Nossa Senhora por ter livrado os filhos de irem para a tropa e muitas vezes para que nenhum mal acontecesse aos maridos, que tinham emigrado para o Brasil, para conseguirem o sustento da família, que era a única alternativa, como aconteceu ao teu avô e ao meu pai e a tantos chefes de família da nossa povoação e de outras partes do País, porque cá não havia forma alguma de ter algum dinheiro.
Tenho bem presente na minha memória o mês de Maio em que ao fim de um dia de trabalho, tocava o sino e lá iam as pessoas para a capelinha, em que o meu pai rezava o terço e dizia a ladainha de Nossa Senhora, finalizando com uma leitura própria do mês de Maria.
Mais tarde quando eu tinha 16 anos, coube-me a mim essa tarefa, pois o meu pai teve de ir novamente para o Brasil, de onde tinha vindo há 4 anos. E assim se cumpriu a tradição até que vim para militar para Lisboa. Também me lembro das raparigas, que andavam no bailarico, o que era frequente todos os Domingos, umas vezes com o Elias de Cima, que recordo com muita saudade a tocar concertina, outras com o Constantino de Cabaços e na falta destes lá estava o saudoso Adrianito com o seu realejo, mas nisto tudo o que é mais engraçado era as raparigas a pedirem-me , que também andava no baile para ir tocar o sino mais tarde, que como é lógico queriam dançar mais. A maioria das pessoas do Moção eram muito devotas de N.S. da Livração, que é a padroeira da povoação.

Texto enviado por: Ananias Correia (a quem agradeço), 73 anos de idade natural do Moção e residente no Forte da Casa V.F.Xira