sábado, 26 de agosto de 2017

Rio Paiva

Na translúcida corrente a limpidez do espírito

Lazer no Rio paiva


Simbioses Montemuranas, um livro de Dolores Marques


Tela D'Água - Rio Paiva


Resgate

Corre-se atrás de um tempo informe, que nem mesmo a dor tem lugar nesse caos.
Doravante serão destituídos os momentos, que, por incumbência do destino ardam já no lugar onde se arrumam os sentimentos vazios.

Que negras são as vistas para os lugares de ontem.
Que fome resistirá aos tempos vindouros?
Que fundas são as meninas dos olhos a coabitarem um tempo incólume.
Que nomes têm as duas porções do pensamento, quando se juntam em “orgias” intelectuais, porém pecaminosas no seu pensar ardiloso?
Que caminhos seguirão quando sucumbirem perante a arte do seu saber existir?
Quais os espaços, e que tempos sobreviverão à catástrofe do seu pensar existir?
Corre-se…corre-se e escorre-se o pensamento.
Vive-se…vive-se e permitem-se no tempo, vultos que violam a própria luz.
Sonha-se…sonha-se e voa-se sobre as águas tais vampiros agonizantes, com sedes e fomes cavernais.

E o sangue é quente.
E a morte é fria.
E os deuses são ausentes.
E os caminhos cortados
E os olhos fechados.
Mas, as bocas abertas à chegada das estrelas.

Dormem agora todos juntos, prenhes da noite.
Os andrajos desajeitados, todos de enfiada por terra afora.
E matam fomes de outrora.
Saciam sedes de um tempo escorrido nos augueiros.
Declinam o seu próprio tempo.
Afogam-se nos seus próprios pensamentos.
E alugam-se uns aos outros.
Copiam-se nos trajectos da lua.
Mastigam sóis nos lençóis.
E rezam à desdita má sorte, por mais tempo.

Choram lágrimas tecidas na pele, derramadas agora na pureza dos seus actos.
E o corpo é só um corpo.
E os olhos são só uns olhos.
E a boca sã nos suspiros e gritos, colhe adversidades, vociferando maldades.
E os cabelos são só uns galhos secos nas árvores, onde dependurados os pensamentos, se ajeitam para voos nocturnos.

A edificação de uma vida cuja validade já fora de moda, arrasta tempos atrás de tempos, na divisão dos seus mundos internos.
À despedida, saberão como sentir o que pensam….e tudo voltará a ser a essência, na decadência dos lugares ocupados por Deuses.
À despedida saberão dos Deuses que são, ou não, mediante o pensar da sua própria razão de existirem.
E as ceifas continuam no resgate dos caminhos perdidos.

ÔNIX/dm

Caminhos

Não me indiquem os caminhos para chegar a Deus. Tenho o meu próprio caminho.
Onix

Liberdade

Eram todos livres, menos o voo das asas a oscilarem em voos lentos e pesados. ...

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

E sejam todos Profectas


Quando o véu cair, ao abrirmos os olhos à existência do verdadeiro Conhecimento, há coisas que eles verão, como se tivéssemos acabado de nascer.
Porque a verdade cujo "conhecimento" julgávamos ter, não passa de uma fraude. A mentira cuja coação intrínseca, os coíbe de olhar e verem tudo.
O fluxo deste flagelo atinge já dimensões incomensuráveis.

A vergonha deste anonimato, em que nos encurralamos, como se fôssemos, nós, os “nós” da verdadeira causa desse antro, assim como do real efeito que em nós se funde, antes ou depois do tempo previsto.
Que coisa é esta, a morrer e a renascer, sem darmos por essa verdade a arrancar raízes de uma mente insana. Sintomática a densidade dos corpos, inadvertidamente expostos à Luz.

Que vida é esta, a correr pela diversidade dos caminhos fechados à metáfora dos olhos.
Que sentir aberto ao medo, reflectido na insanidade aparente do espírito que os guia.
Mas, que sentimento libertador sobre as asas, quando em voos pensados na limpidez das águas, se defendem caminhos, e se juntam os nós todos do corpo agora coberto de musgos.

Sem querer interferir no mundo ficcionado de um certo estilo de uma pauta musical, construída a ferro e fogo nos caminhos da tortura.
Sem me querer imiscuir nos versos de uma série anónima de poemas, a soerguerem-se serra acima.
Sem querer, sequer, saber quando e porque se coíbem de se afirmarem donos de si mesmos nos subúrbios de um sonho...

VIVO!!!

E é com este tipo de afirmação nos arrabaldes de um pensamento, que a mente se mortifica, quando caminha sonâmbula.
E é com este modo infame, que se julgam os dedos capazes de serem tudo, menos a metáfora a construir versos no tempo dourado.
Soltem os corpos no tempo das colheitas, e não queiram saber quem fui na Primavera, quando das sementes lançadas à terra.
Cantem todos, as odes ao Outono, que o Inverno aquece-vos os olhos com o divino manto sobre os montes.
Rezem todos, mas em silêncio, no vale onde deixaram firme, a vontade de serem os Filhos das Estrelas.

E sejam todos profetas
E sejam todos deuses
E sejam todos santos

Mas não façam do templo das pedras edificadas pelo destino, um tabernáculo das vossas orações.

É que os tempos novos, saberão quem são à chegada quando se abrir o corpo fértil da nova terra.

E sejam todos VIDA!

ÔNIX, in "O Caminho das Estrelas"

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Filhos das Estrelas

Visionários a tecerem os sonhos no sótão onde arrumaram o sol.
Que sol será este que os acolhe no campo visual de um lugar de arrumos fáceis.
Que lugar ermo é este na palidez dos abraços da lua?
Que filhos serão estes, os da terra?
Quando foi que do céu chegaram as estrelas?
Que esconderão nas mãos os filhos nascidos do ventre do céu?
Que sementes serão estas lançadas à terra e sem água que brote da fonte?
Os mares tumultuosos, à espera do tempo dos náufragos além do horizonte.
Os rios, calados, afogam as tristezas carregadas pelos ventos.
Um instantâneo focado no passado de uma corrente sempre presente no seu momento transitório.
E a corrente convida a descansar os pensamentos, reflectindo a mágica peregrinação do espírito
O que fariam as estrelas se soubessem que poderiam renascer por entre os trilhos dourados e submersos de um rio que nunca se perde?
Por entre granitos e xistos, a corrente convida a descansar os olhos.

E os ventos, tais melodias nascidas no alto da serra, sopram as nuvens em jeito de furacão.
E as orações na capela cantam o tempo das colheitas.
E os braços ceifam o tempo das searas.
E o sino a reboque já sem o timbre de outrora.
Sonhos e mais sonhos riscados nos penedos.
Choros e mais choros colados no sobrado.
E a terra lavrada.
E os filhos da terra sem saberem ler nem escrever...sonham.
Sonham com o tempo dos trovões nas rezas dos lábios.
Sonham com as estrelas que tombaram e por aqui ficaram.

E as searas em chamas
E as levadas secas
E ainda se ouvem as rajadas de um vento a norte a sacudir-se, enquanto os filhos da terra se abrigam junto das estrelas caídas.

Dolores Marques (ÔNIX) /Moção 2017

domingo, 13 de agosto de 2017