quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Horizontes

(Foto Dolores Marques - Serra de Montemuro)


vale fértil
conselheiro
e verdejante
no esplendor
da fonte de vida

serra minha
sem nome
perdida no tempo
agreste
árida
fria
da má sorte
na espera
da bonança

aves canoras
em voos curtos
são sinfonias
em compassos valsais
na chegada da aurora

cristalino orvalho
matinal
que nos dias outonais
é neve nas mãos
e fogo na alma

noite cálida
morte nua
e sua
a solidão a aquecer-se
em frente da lareira
no silêncio cortante
do palpitar do coração
nu…ainda
trinar duma guitarra

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

À espera do verão




(Foto Dolores Marques - Serra de Montemuro)





São as mós
E os nós
E as águas
E os lameiros

São os rios
E os ribeiros
E as lágrimas
E os trilhos

São os grãos
De trigo
E as pedras
E o nevoeiro

São os fardos
E os dardos
E os corpos
Nas enseadas

È a constante agitação
Das levadas
Que correm
Em jeito de oração

Devotos os picos
Mais altos da serra
Tardios e esguios
À espera do verão

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

No Meio do Nada



Aldeia esquecida
No meio do nada
Onde quase nada existe
A não ser
Solidão
Isolamento
Terra perdida nos confins
Da serra

A esperança desvanece-se
O sonho apaga-se
A ambição morre
Procura-se uma saída
Mas encontra-se sempre
Uma encruzilhada
Imaginando como será
O outro mundo
O mundo do lado de lá

Terá muitas cores
Luzes, gente
Que belo sonho
E a verdade assume-se
No mesmo mundo
A terra do nada

Triste realidade
Embrenhada na terra perdida
Deixando-se levar
Por este nada
Terra que é de todos
E não é de ninguém

Lugar este
Que me pertence
E o sonho que nunca acaba
Continua…nas gentes
Nas gentes que vivem da terra
Do nada
Para o mundo

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Livia Dias Ferreira, minha avó, nasce no Brasil, após a emigração de seus pais. Regressa a Portugal com 6 anos de idade. Nesse mesmo dia foi guardar gado no monte. Nunca voltou a sair da aldeia, onde casou e teve duas filhas, minha mae Deolinda e minha Tia Ida. Uma força no feminino, a trabalhar a terra. Trabalhou nas minas de extração de volframio




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A mais pura casta


Agora que me apetece comer uvas brancas, só as pretas me dizem como saborear o mais puro néctar da vinha, aquele mosto quente a escorrer-me pela face, a amaciar-me os lábios ressequidos. Agora que me lembro dos bagos dourados - puras pepitas d'ouro a cair nas minhas mãos, só as pedras do rio me dizem como deslizar na corrente e ir rio abaixo em busca dos raios solares - desígnios matinais que se afundaram durante a noite e deixaram as águas paradas, os lameiros escorregadios e os montes desvairados. Essa centelha de vida pelos matagais enfermos, essa tormenta escondida que o vento traz quando do alto se ouve o canto das águias a esvoaçar nos penedos. Ergo-me de frente para a serra e ela diz-me ao que vim, e de que maneira vou quando o sol se esconder e a vinha se render finalmente nos meus braços.

Labuta diária que se estende na força de quem tem a terra e a merece, acontecendo ao nascer do sol. Esse será sempre o tema resguardado nos olhares de que tem um espaço e o cuida como quem sabe que há lugares ao sol e na noite se inibem quando reconhecidos por um além que não sabe onde fica o aquém - lugar devoto dos acontecimentos que marcam todos os rostos, todos os braços e todos os corpos admoestados por uma simples brisa que passa enquanto o sopro vai no encalço de mais uma colheita que em Setembro é adorno, a mais pura casta.


(Poderia ter tirado boas fotos, não fosse o meu próprio esforço físico que me deixou um pouco vazia de olhares, a não ser o que o meu próprio olhar reteve que ficou cá)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Em Agosto secam os montes e em Setembro, as fontes"


Este é mais um ano que avisto ao longe os diversos montes sobrepostos, enquanto os meus olhos procuram novas cores na estrada. Há dias com um sol tão forte que me parece soltarem-se raios solares de dentro do alcatrão. As cores são agora mais desbotadas do que da última vez que aqui estive. Era Primavera e os montes um povoado de jardins raros com cheiros inebriantes. Vou olhando as paredes graníticas rasgadas pelas máquinas quando da construção da estrada que vai dar ao Porto e olho a placa que anuncia o fim do Concelho de Castro Daire e início do Concelho de Cinfães. Mas é aqui neste ponto alto da Serra, um ponto de passagem e também um ponto de paragem, para que meus olhos alcancem os diversos tons mesclados, tal a distância que eles albergam neste ermo distante das margens do rio. Por lá vêem-se os mais diversos tons de verde. Desde a folhagem dos amieiros, às eras que abraçam as pontes, até aos tons verde claro e verde escuro das águas á sua passagem pelas diversas rochas, pelo chão de areia ou chão de terra coberta de musgo.

Enquanto visualizo estas imagens do rio Paiva, que são um contraste interessante mesmo ali em baixo nas encostas da serra, os meus olhos procuram as fontes que em Abril ainda jorravam pelas pedras de granito. Contudo em Agosto, só restam os vestígios do que as águas deixaram à sua passagem. “Tudo mudou de cor”, digo eu, enquanto a minha mãe esboça uma frase que eu nunca tinha ouvido: “Em Agosto secam os montes , e em Setembro as fontes”.

De facto não se vê um pingo de água que tenha ficado esquecido nestas paragens. A paisagem para além de agreste, com as suas rochas esculpidas pelo tempo, onde eu sempre visualizo alguma figura humana ou animal, por vezes parece um sol ardente por tudo o que é canto e recanto. É ainda Agosto e ao que parece, as fontes secaram. Não é por acaso que passo mais um ano na minha aldeia que se situa nas encostas desta serra e venho com uma sensação de vazio, não de água que ainda por lá escorre alguma, mas da forma como a recebem, quando dela precisam para regar as terras. Esquecem-se os valores adquiridos, tais como a religião, a amizade, a solidariedade, a os laços de família em prol de um rego de água para defender o que é seu.

Costuma-se dizer “o seu a seu dono”, mas aqui nestas terras isoladas do resto do mundo, a água é um bem precioso, como preciosos são todos os bens que dão voz à voz da terra e à sabedoria popular. Tudo se move em prol de um rego de água e a noite é um céu onde as estrelas se avistam e se vigiam para a viragem das águas. Esta foi uma noite, em que fiquei também eu, a ver quando a estrela se ia por para lá do monte. Seria esse o momento em que meus pais teriam que virar uma água e juntá-la durante a noite numa das poças que existem no cimo da aldeia para o efeito. São cada vez um número mais reduzido as pessoas que vivem nesta aldeia, mas mesmo assim, não se conseguiu ainda uma forma de entendimento, para se saber ao certo a quem pertencem as poças e a quem pertence virar a água ao por da estrela. Desta água a minha mãe ainda sabe, pois lhe foi legado este saber pela minha avó, e à minha avó pela minha bisavó. Dou comigo a pensar se eu voltasse a esta terra, como sobreviveria, pois se nada sei de águas da levada, talhadoiros, regos, poças e boeiros de poças. Não será o momento de todos se sentarem à mesma mesa e colocarem as cartas na mesa, digo, arranjarem forma de entendimento de uma forma saudável, já que são tão poucos e todos uma família? Daqui a poucos dias vou embora, mas com a mesma tristeza de sempre, que é sentir que este espaço ocupado por poucos, dá azo a tantas euforias do momento, mas que trazem com elas tudo o que faz do ser humano um ser tão minúsculo do Universo, mas com imensas capacidades de alcançar o outro lado do mundo e dizer: EU SOU.

Rio Paiva na sua passagem por Pinhero

Esta parte do rio é uma entre muitas as que se conhecem, (o Rio Paiva na sua passagem por Pinheiro) que fazem as delícias dos que aqui vivem e ainda mais, dos que aqui viveram e vêm tal como eu para passar férias.


Pinheiro, uma freguesia que alberga um grupo significativo e aldeias, tem muito do que se orgulhar, quer pela igreja ostentando os seus altares de talha dourada, quer pelo rio que passa mesmo ali a seus pés, de uma forma lenta e tranquila no verão e de uma forma brusca e rápida no Inverno, pelas fortes correntes que constituem várias passagens de pura espuma tão branca que faz pasmo a quem passa na estrada.


Desta vez vim por aqui ver como se comporta então esta parte do rio e observei as pessoas que nadavam enquanto eu tentava decifrar algo sobre esta ponte de pedra, que dá passagem ao outro lado da serra de Reriz.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Simplesmente Arte (David Ferreira)




David Monteiro da Silva, Nascido 3 de Junho de 1934, na Aldeia da Relva, freguesia das Monteiras concelho de Castro Daire. Casado com Maria Leonida Dias Moreira com quem teve 2 filhos. Adelino e Joaquina Silva. Tem várias paixões que lhe conferem um estilo muito próprio, o de um homem que vive em plenitude rodeado pela natureza e por tudo o que ela oferece. Homem tipicamente serrano, gosta de cantar o fado à desgarrada, fez parte durante cerca de 15 anos do rancho folclórico da Relva. Ainda hoje, ele os seus companheiros, alguns do serviço militar, marcam uma desgarrada todos os anos em Agosto, a qual tem a duração de um dia e parte da noite. Migrou para Lisboa, onde viveu alguns anos mas é neste local onde cresceu e se fez homem, rodeado, pela montanha, trabalhando a terra e fazendo pastorícia, que se encontra actualmente. Nos tempos livres faz recolha de algum material que a paisagem lhe oferece, para esculpir as suas peças. Este local é forte pela predominância do granito e madeira, contudo tem algumas peças esculpidas, onde o material utilizado é a pedra hitongo, que um amigo faz questão de lhe trazer de fora.





O tema predominante nas suas peças é baseado na arte sacra, e isso é devido á influência religiosa, da Igreja Católica a que as gentes destas terras sempre estiveram sujeitas. Assim, em vários locais da aldeia, encontramos algumas esculturas, como; Matosinhos, são João Baptista, St António, Sagrada Familia, São José, Santa Quitéria, Senhora da ouvida e Sagrado Coração de Maria.




Nascido e criado neste ambiente serrano, a sua arte apresenta, algumas figuras características da serra, assim como instrumentos de trabalho, e instrumentos musicais.
(D. Leonida, fez questão de nos presentar a com uma peça muito característica das aldeias serranas; A capucha, uma peça de vestuário que serve ainda nos dias de hoje, para proteger do frio. É feita de burel, ou seja de lã de ovelha, fiada e tecida no tear – um outro tipo de arte artesanal, saída das mãos da mulher).








A Senhora da Ouvida peça que ele tem em vários registos, é uma Santa muito visitada principalmente no dia da Feira anual, onde se realiza a missa e se desfila o andor à volta da capela. Este é um local muito próximo da sua aldeia.



A primeira peça que esculpiu, foi em Lisboa, local onde iniciou a sua arte quando por lá viveu, mas as influências tinha-as adquirido aqui, na sua aldeia. Enquanto jovem construía pequenas peças, mas sem lhes atribuir grande valor, a não ser aquele que ele próprio atribuía, por se tratar de afirmar a sua verdadeira paixão pela Leonida, hoje sua esposa. Os seus encontros para se tornarem mais fáceis no que toca à acessibilidade do local, David construía aviões, que segundo ele eram maquetas que iriam servir para construir pequenas avionetas para que a sua amada pudesse chegar perto dele o mais rápido possível. Leonida, sorri mas com um brilho no olhar pela constatação ainda hoje de um sentimento nobre que a conquistou e a conduziu até ele.
É quando regressa de Lisboa definitivamente, que a sua arte se desenvolve através da recolha de material que vai esculpindo para ocupar os tempos mortos entre o granjear da terra e a pastorícia.



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Nota: Lamentavelmente as entidades competentes em Castro Daire, ainda nada fizeram para mostrar o seu trabalho ao publico em geral. Uma demonstração do seu trabalho no Museu seria o ideal para dar assim a conhecer a grandeza e a boa vontade deste homem simples, trabalhador da terra e buscando sempre novos horizontes

Não te sei



Sei-te com dor
Mas não te sei perto
Nem longe
Não te sei!

Nem me consigo lembrar
Da cor dos teus olhos
Quando choras
E deixas cair uma só lágrima
Nas minhas mãos vazias

Esta lonjura imensa
Este degredo
Em que m’encontro

Não sei como subir
Ao alto da serra
E gritar
Simplesmente gritar
O teu nome
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Dolores Marques


Homenagem a David Ferreira (escultor da aldeia da Relva em castro Daire), que se encontra gravemente doente

terça-feira, 23 de agosto de 2011



Algumas imagens de um local que me ensina a respirar. (Serra de Montemuro)














A aridez destes lugares despertam-nos para outros mundos, onde as formas se apresentam de uma forma invulgar, talvez com uma certa altivez, que me faz sentir que tudo é assim porque tem que ser, tudo se compõe atravé...s de uma brisa, ora leve e suave, ora repentina e espalhafatosa como que a dizer; aqui o céu é mais azul apesar da neblina que se avista ao longe, tal a distância que nossos olhos alcancam rumo a novas descobertas, onde o olhar é mais genuíno e verdadeiro. Aqui é um lugar para se aprender ou reaprender a viver, ou talvez mas tão só, SER.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Os Resistentes (Cont)







O meu primo João e a esposa Aida, pertencem ao grupo dos resistentes que aqui se mantém, quer trabalhando a terra quer na reconstrução das casas antigas. Esta é uma casa com cerca de 200 anos, que pertenceu a minha avó Livia e faz parte do património de meus pais. A casa onde nasci. Ao chegar perto, deparei-me com uma mulher que segundo me disse a minha mãe, faz de tudo, até ajudar na construção. Uma mulher elegante, e bonita, cabelo longo e escuro que se vê soltar-se por debaixo do boné. As telhas saltavam das suas mãos e os seus passos tão ligeiros, e muito mais do que a minha objectiva, para lhe captar os movimentos. Quando olho este casal, fico feliz por saber que se mantém firmes e dedicados à terra onde nasceram. Aqui sobrevivem nesta aridez e sem baixarem os braços dignamente se revezam nos revezes que a vida tem.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Às Escuras Encontro-te - O Livro


Nota de Autor:
Esta é a minha comunicação ao leitor, passando pelo crivo que me traz sempre uma nova forma de pensar, sujeitando-me às ideias impostas pelo meu subconsciente, consciencializando-me a mim e a vós, de que há muito para sentir, há muito para ver, há muito mais ainda para esclarecer, num mundo de imagens que nos são direccionadas de fora para dentro, passando para o exterior através de outras mais límpidas e transparentes. Mas será que esse interior de cada um de nós, servirá de ponte para que os elos sejam dourados na magnificência das cores, dos movimentos, das semelhanças, caracterizando um “modus vivendus” actualizado? Previno-vos que este livro se adequa apenas ao leitor pronto e de espírito liberto. E questiono-me se esta será a melhor literatura que haverá no momento. Pois…
Não se trata de romance, não se trata de ficção, nem tão pouco de narrativa, mas será sim uma autêntica ficção dentro de um mundo que se nos apresenta fictício, descrevendo os contornos de uma história que poderia ser verdadeira, que poderia transformar este livro, numa autobiografia. De biográfico tem pouco. É somente um momento nos diferentes compostos químicos, auto-merecedores de atenção, bio-compostos por fragrâncias libertas para a atmosfera. Ele, transporta-nos para esse mundo do qual tentamos sempre fugir, a não ser que tenhamos a capacidade de podermos assumir-nos nas nossas mais eloquentes formas, umas vezes bizarras, outras inseridos numa compilação vs normalização dos gestos diários.
No capítulo II, escrevi:
Este é mais um degrau na subida vertiginosa que se apresenta em várias partes do meu corpo. Uma visita guiada pelas minhas experiências enquanto necessidades básicas do meu corpo, da minha mente e do meu espírito. Este é um mundo onde me poderão encontrar, encontrando-se, basta que para isso, saibam viajar comigo através das nossas semelhanças e aí, seremos um só, numa caminhada silenciosa por entre uma multidão. Pensei nas ferramentas adquiridas, e que talvez tenham uma quota parte de responsabilidade por estas experiências de cariz transcendental. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Abriram-se canais, sujeitei-me a Ti, numa viagem até aos confins do Universo, e dei comigo a escrever sobre isso, começando por descrever a primeira viagem, passando pela minha visão do reiki, corpo espelho, meditação, chikung…etc. Dêem-me a honra da vossa presença e garanto que há sítios escondidos debaixo das minhas palavras que não conhecem:
Se quiserem então viajar num espaço inédito, sujeito às várias circunstâncias que este livro nos apresenta, terão que abrir as portas e, assim sendo, colocar-vos-ei perante uma só palavra - AMOR.
É este o mote do livro. Amor em todas as vertentes socializadas vs sociabilizadas, por força maior de uma mente que se fechou ao mundo externo durante duas semanas e viveu e plenitude dos mundos extra-sensoriais e de tudo o que a vossa imaginação puder alcançar.
A saber pelos capítulos:
Capitulo I- Versando o Amor: Um amor meu, aquele amor que sabemos que existe mas que nunca sentimos a entrar-nos pela porta da frente. Um sentir silencioso, quente, que nos diz de outras realidades extra-sensoriais. “Há um prenúncio de qualquer coisa mesmo antes de o ser… Esmiúço os sentidos até descobrir o que me leva por estes meandros da vida já gasta…”
Capítulo II - Energias subtis, outra forma de amor: Um encontro com outras realidades que versam o amor em termos práticos, mas ao mesmo tempo sob a forma de energia em movimentos subtis. Uma forma de estar e viver segundo conceitos básicos de como se ser Pessoa no meio de tantas as que conhecemos, e que sem saberem como por vezes actuar para serem pessoas, o vão sendo. Foram também estas práticas que me levaram ao encontro do encontro amoroso de que falo neste livro, e que vivendo em mim em forma de Amor, é uma forma de estar que me dá prazer. Aqui, irão ter contacto com algumas informações básicas do conhecimento geral sobre reiki, sistema de corpo espelho, meditação, chikung…etc.
Capítulo III – Cá e Lá - A Ponte: Após o capítulo anterior, chegou então o momento de vos fazer chegar as minhas experiências pessoais a um nível subtil e transcendendo o da realidade física, indo ao encontro do amor que me visita nas noites em que me abro a ELE. Forças do além, amor feito energia residindo em mim ? Seja o que for, e os nomes que lhe queiram dar, foi sentido no meu corpo de uma forma intensa. “Penso-Te e estás presente no momento, numa sintonia perfeita”
Capítulo IV – Vale do Silêncio: Encontros numa realidade que é a nossa, aqui nesta terra que nos viu nascer, onde os corpos se tocam e os olhares se cruzam para um amor prestes a acontecer. Mas algo impede esta ligação que nos poderia levar à prática de “um sexo sedutor”, após os toques e carícias de almas solitárias. Sou apenas acolhida por um vale do silêncio que se alonga a cada dia passado. “O seu brilho ténue, conduz-me para o meu silêncio e enrosco-me no seu círculo mágico”.
Capítulo V – Outros Sons: O último capítulo do livro, encerrando-o por ter finalmente encontrado o mesmo tipo de energia que me lo fez escrever. No entanto, os sons tornam-se deveras evidentes que são só audíveis para mim. Existe talvez uma força que desconheço e que está em redor de mim, para me lembrar que o conhecimento da verdade não está ainda na mesma proporção com o que espero da vida. O AMOR, encontra-se num caminho único onde se encontra tudo o resto. Este encontro final teve como ponto de partida, um ponto a tocar o infinito, estendendo-se esta trama de um nível “mais terreno”, terminando com um poema “Quero que sintas que por ti eu sou”.
Espero sinceramente que este livro vos diga algo e faça algum sentido a todos de vós.

Dolores Marques



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Apresentação dia 26 de Março de 2011, pelas 18h30, Campo Grande, 56 - Lisboa

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

De Manuel Araújo da Cunha - às vezes escrevo fora dos livros




Embrenhei-me nas montanhas sobranceiras à Paiva ( rio Paiva) a que eu gosto de chamar no feminino) e não sei se venho dos lados da serra de Montemuro ou se me deixei ficar numa das aldeias dispersas pelos montes. Sei que ao ler esta escrita, mergulho nesse mundo rural quase esquecido mas depositário de belezas raras, de cheiros inimagináveis, palco... sobrevivente às imensas cenas ali representadas ao longo de séculos. Quase todos partiram deixando a terra ao abandono, quase sozinha nessa luta desesperada contra a desertificação.
Há casas abandonadas, ruas inteiras onde só o vento caminha solitário. Há roseiras em beirais que deixaram há muito de ter água, há campos onde o arado não rasga a terra outrora produtora de pão. Há fantasmas a percorrer as noites, sombras de gente que já não mora ali mas deixa o pensamento regressar em busca de um tempo feliz ali vivido. Ás vezes percorro esse espaço para sentir o clamor das saudades, ver de perto, ser testemunha ao menos, da agonia de um país que deixou de honrar-se a si próprio e perdeu as referências maiores da sua história. Se me ponho a pensar em tudo sentado numa pedra à beira da Paiva, é por que por mais que tente encontrar explicação para semelhantes crimes, nada de nada me ocorre perante a realidade que me cerca.
Esta é a reflexão que me aparece ao ler este texto, o acenar de cabeça de quem concorda com a escrita. Palavras, são apenas palavras mas têm o poder de despertar a história de um povo.
Deixo a serra ou vale onde corre um rio que não é o meu com a certeza que a Paiva, mais hora menos hora, há-de encontrar-se com o Douro e então este rio que é o meu, vai saber de tudo o que se passa nas montanhas.

Manuel Araújo da Cunha
http://dourointeiro.blogspot.com