Fiar o Linho

A mulher andava pelos campos guardando os rebanhos e fiando o linho, ou então sentada à porta dando dois dedos de conversa, enquanto o sol não se escondia por detrás do monte.

À noite, ao serão na lareira, enquanto a lenha estalava e eu via o fogo crepitar e as faíscas a saltitar pelas rugosas pedras, a minha tia ia contando histórias e fiando o linho. Eu ouvia as histórias ano após ano, já as conhecia, por isso concentrava-me nos gestos e nos movimentos sitonizados entre a roca e o fuso.

Na ponta da roca enrola-se uma boa porção de linho e vai-se puxando o linho que começa por se enrolar no fuso. É ele que através dos movimentos dos dedos da mão direita, vai rodando e puxando o linho até ficar transformado em fio. O fuso é uma peça de madeira fina e dedonda que vai recebendo o fio, e que quando cheio se retira. È a meada pronta para a fase seguinte.

Tascar e Cedar o Linho

Esta é a fase em que o linho se coloca sobre um cortiço, e se faz deslizar uma Espadana (em forma de tabua bem afiada com um cabo para poder pegar e novamente exercer a força). O linho inicia a fase da separação do que está a mais e a fibra surge; fina, macia, dourada, leve.
Gostava de pegar-lhe e sentir-lhe a suavidade.


O cedeiro serve para fazer a separação do linho em tomentos e bordascos e o próprio linho.

Uma estriga de linho é a porção de linho que cabe numa mão após a passagem pelo cedeiro.


- Estriga ou arrate de linho - Quantidade que era vendida na feira do fojo na Serra de Montemuro


Tudo o que se separou do linho vai também ser aproveitado para tecidos: saias de serguilha, calças e camisas de tomentos, aventais, colchas, cobertas..etc.


Do linho puro, também se faziam lençóis, camisas, roupas interiores, tolhas para mesa, toalhas para embelezar os altares nas igrejas

(Este é um exemplo de como se aproveita o linho no presente: cortinado feito pela minha mãe, com linho que foi trabalhado pela minha avó Livia Ferreira)

Maçar o Linho

Inicia-se a partir de agora uma nova fase, a da transformação do linho em fibra. Existem na aldeia uns muros que ficam mais ou menos à altura da anca das mulheres e que são terminados com pedras lisas, normalmente são lousas grossas.
É aí que o linho é maçado. Uma quantidade razoável de linho disposta em cima da pedra e sempre bem seguro pelas mãos da mulher que o vai maçando até a planta ficar ficar moída e com com aspecto esbranquiçado.
Esta é uma tarefa que requer alguma força, pois com estes instrumentos, a mulher levanta e desce o braço, quantas vezes forem precisas até o linho começar a ficar com a forma desejada para então se proceder à fase seguinte.

Este tipo de tarefas só serviam para me divertir...

Fingindo que era já uma mulher adulta, tentava imitar a minha avó nestas tarefas diferentes, na aldeia...

Mª Dolores Marques