(...)
Com os pés dentro de água, e o olhar sobre as margens do rio, deixo-me
conduzir a certos estilos de vida, e a registos que ainda se encontram em
estado quase inalterável, sempre que me foco no modo como vivem ainda algumas
pessoas. Parece que o tempo parou e nada se modificou por aqui. O poço dos
frades está ainda longe de o poder alcançar, pelo menos por hoje. Faz-se tarde,
o sol quase se põe e o cansaço começa a vencer um corpo que já se habituou a um
outro estilo de vida na grande cidade. Sei que terei que o encontrar, pois será
mais um ponto, a levar-me ao passado, não do tempo em que os frades o visitavam,
porque esses foram uma classe á parte, transportando uma outra cultura, talvez
oriental para um espaço onde a força dos 4 elementos está sempre presente.
O carro desliza sobre o alcatrão, e apesar de estar já quase a atingir o
lusco-fusco, ainda dá para sentir este bafo quente vindo da Serra do Montemuro,
trazendo os cheiros característicos das suas flores montanhesas; urzes, alecrim
do monte, rosmaninho, giestas brancas e giestas amarelas, piornas, sargaços
brancos e sargaços amarelos…etc. Pútegas é um fruto montanhês retirado da raíz do
sargaço. Na primavera é quando se pode apreciar este fruto que deixa escorrer
um suco meio agreste, meio adocicado, que faz as delícias de quem percorre os trilhos
da serra.
Há um tempo para tudo, quando vemos que mais uma noite se aproxima e que
trará com ela, nortadas fortes, que por certo, irão fazer estragos nos campos de milho, mas
mesmo assim, a noite vai começar com o encaminhar de novas águas e de novas
histórias, de tempos memoráveis. Amanhã será mais um dia, para tentar saber onde
e como se movimentou um homem, que não se curvou perante as normas impostas por
qualquer ordem religiosa, mas que sendo um filho de camponeses pobres e sem
terra, se limitou a este espaço, para tentar sobreviver....
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