segunda-feira, 20 de abril de 2015

Nos braços dos homens



Tinham todos um corpo inteiro
Que vinha lá do tempo sem tempo
Chegavam todos os braços dos homens
Resgatados do mundo sem fundo

Eram os velhos e os novos
Eram os homens 
E os braços dos homens
Eram as mulheres de barrigas cheias
Que pariam nos braços dos homens

Todos juntos eram todos
Menos os outros que ficaram
A braços com a terra arada
Sem rumo e sem mundo choraram

Chegavam todos de corpo inteiro
Eram os velhos  e os novos
E eram as crianças de colo
Ainda nos braços dos homens

Carregavam a dor de um parto
Que ficou à parte dos homens
Vinham todos de um degredo
Vinham as mulheres e os homens
Vinham os velhos e os novos
Vinham os fardos de palha
Que a foice ainda lembrava

As mulheres de barrigas cheias
Pariam nos braços dos homens
E as crianças que eram de colo 
Ainda de braços estendidos
Caiam dos braços dos homens
Caminhavam descalças nas ruas

Choravam todos juntos
Junto às mães que de barrigas vazias
Se jogavam nos braços do mundo

Era um mundo lá do fundo
Do tempo dos braços dos homens
Era um tempo de degredo
À conta do mesmo medo
Que caia nos braços dos homens

Dolores Marques

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