No Montemuro, as formas assumem uma gigantesca transformação. Seremos capazes de conseguir, também nós, mostrar-nos sem ferir a mais pequena partícula de granito que nossos pés pisam? Os nossos passos seguem e as partículas de granito ficam para se juntarem a outras. Juntas, irão absorver e calar os ecos dos nossos passos, que muitas vezes deixam um rastro de indecência que amedrontam as encostas perfumadas de rosmaninhos. Ousam até desafiar os cumes da serra que o sol abraça.
E os nossos braços serão assim tão fortes, que consintam num abraço tão forte como o de algumas formas arquitectadas pelo tempo?
Há formas que se constroem a partir da mais pequena partícula. Sentem que a cada nortada forte, lhe sucede também uma brisa suave, que transforma e suaviza o ventre materno, de forma a criar mais circunstâncias vitais renovadoras. Assim, ao pararmos para simplesmente observar, vemos as formas, consoante a nossa visão do mundo e das pessoas.
Lamentavelmente, muitas formas ainda se encontram em estado de gestação, pelo que, não as consigo ver crescer, transformarem-se em criações mais adequadas ao meio. Por isso, parti o meio pela metade, e no centro, encontrei a outra metade. Talvez assim me junte a ela e me refaça no meio das gigantescas formas orgásticas de vida na vida, organicamente instituída.
Acredito no ser humano. Curvo-me perante a sua grandeza, aquela que me faz ser num mundo fantástico das ideias, mas recuso-me a seguir conceitos, regras criadas para satisfação de interesses, onde só o absurdo corre por entre portas e janelas.
Da minha nova janela vivo por momentos aquela satisfação de ter uma janela aberta para o mundo. O rio ao fundo e alguns barcos que passam. As palmeiras que se abeiram nos telhados antigos, entregam-se num abraço às paredes toscas dos palacetes que sobrevivem esquecidos no tempo. O céu aproxima o brilho das estrelas, idênticas às que me punha a contar na minha aldeia.
Fazia-o sobre a varanda antiga de ferro com recortes circulares voltados para as serranias. Olhares, num único olhar para o céu a perder de vista, faz-me pensar como agrupar as palavras que falam de sentimentos. Elaborar talvez um puzzle como tanto gosto. Brincar com as estrelas. Acolhê-las nos meus seios e transformá-las em botões de rosa circundando um espaço vazio, onde me deito e encosto ao silêncio das palavras.
DM in "Coração da Coração"
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