sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A linguagem da vida


Foi com quem aprendi a linguagem da natureza, da vida, de Deus. A minha Tia Carmo era a minha companhia, noite e dia. À noite rezávamos, antes de eu adormecer enquanto com as suas mãos me aquecia dos pés. Ensinou-me a dialogar com as águas, com as estrelas, com o sol, com os pássaros, com os milhos, os feijões, as couves… Ensinou-me a colher frutos das árvores. Também me contou muitas histórias à lareira, algumas de amedrontar, mas todas elas, com um final sempre reinventado por ela, para que entendesse a mensagem. 
Íamos juntas guardar o gado. Enquanto as ovelhas mordiscavam a erva, ela abria a aba do avental e retirava dali sempre algo apetitoso para o lanche. Dali ela retirou um dia, um livro, que me deu, pedindo-me para lho ler. O meu primeiro livro, com cerca de 9 anos de idade. “O Amor de Perdição” de Camilo Castelo branco. E assim fazíamos. Eu lia e ela ouvia. A verdadeira Alma de Um povo, com um coração do tamanho do mundo, um enorme Coração da Terra” a minha Tia/Avó.

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