Não se confundam
Com as raízes tenras
Que possam vislumbrar ainda
Debaixo das plantas dos meus pés
A terra é funda
As sementes leves
Os rochedos firmes
Os xistos apaziguadores
E os granitos a dura realidade
Dos olhos encovados
Não se confundam com a noite
A nascer-me por dentro
A clara lucidez do sentir
Ainda teima junto ao fogo
Que arde na lareira funda
Não se confundam
Com os dias pares
Que na imparidade de um gesto
A vida cobra quando desce
A Estrela Guia
De todas as noites caídas
No meu colo
Não se confundam agora
Que amanhã é tarde
Para ouvirem o canto
Dos pássaros
No meu telhado
Não se vislumbrem
Com as lágrimas caídas
Que nem sempre a noite
Tece angústias
No verde dos campos
Antecipem o momento
E vivam a derradeira história
Das levadas no cimo dos montes
E ouçam o esvoaçar das águias
Sobre o caminho das águas
Não se confundam hoje
Que à noite o Sete-Estrelo
Copula com a Estrela Guia
E o parto é o presumível sonho
Do vosso sono
Não queiram arrancar raízes
Onde elas cessaram
Por conta de uns poemas
Que meus pés escreveram
No chão que pisaram
Ouçam agora o último grito
Dos rebanhos
Sobre o verde da erva
Dos lameiros
E não se confundam
Pois o tempo melodioso
No badalo do sino
A dançar sobre os meus pecados
Ainda não cessou
Dolores Marques.
Dedico a Glória Ferreira, minha Tia, que se encontra já debilitada, com os seus 96 anos.
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