quinta-feira, 3 de setembro de 2020

 


Como é bom ser livre

Enfrentar o “monstro”, com a limpidez duma corrente consciente, fá-lo-á cair em queda livre? A Liberdade é Luz, em plena mente que se arrasta no caminho, a rasgar o Vale sombrio.

O vento criara na noite anterior, um remoinho de folhas mortas, nos fundos. Para mim, viverão enquanto ali se amontoarem histórias. São às cores e ao vivo na demanda de um caminho novo.

Por Moção, os caminhos nunca se gastam. Quer seja o caminho da Bouça, do Soutolinho, da Tapada, do Beloutão, da Regada Velha, das Lamas, do Espegal, e outros tantos, que vão dar à capela, assim como às levadas, todos eles são propósitos que nos levam a sacudir os ombros e dizer, “Quero lá saber onde vai dar o caminho”. Quando lá chegar, saberei como matar a sede ou a fome que me levou por ali.

O Rio Paiva na sua trajectória, sempre nos condenou pelo tempo que demorávamos a chegar à casa sua. Sempre livres eram as correntes, enquanto nós nos despíamos, sem saber onde guardar os trajes, esse ultraje domingueiro, de ir à missa.

Como é bom ser livre e sacudir as correntes de quaisquer arremessos vindos de cima. O Inverno é aquele tempo demorado à lareira. A Tia Carmo, e suas mãos firmes, enrugadas, dedos longos, apertavam as minhas sobre o colo. Na parede onde descansava a cabeça, e aliviava os olhos, fechando-os ao fumo, luzia a chama da candeia, a alumiar-lhe o rosto contorcido, pelas histórias, sem vezes, contadas.

Chegou por fim o momento de olharmos à nossa volta e sentirmos as coisas.

Frio bom.... Chocalhos ao longe. Cães que ladram mas que me parecem uivos dos lobos. Fui buscar broa de milho esquecida no açafate.

O Pai José já cá não está, mas eu não deixarei que morram as histórias dos lobos e lobas, cujos uivos ainda se ouvem nos caminhos.


Dolores Marques (ONIX, pseudónino)

2020


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