Eram tempos de muita luta! Tempos que somando outros é costume deixarem marcas no corpo, e às vezes, dizem que também na alma. Apesar disso, gozavam de boa saúde com braços fortes e pernas ágeis. Subiam e desciam por caminhos e trilhos no meio dos montes como se fosse sempre a primeira vez. No seu devido tempo viravam as águas. Enquanto isso, surgia-lhes um sentimento de liberdade que eles viam a correr pelos campos, tal o desejo a crescer-lhes nos olhos e a distancia a minimizar-se nas pernas. Ágeis quando esgadanhavam o feno com a gadanha, tal como se agiliza um pensamento no abstratismo de um silêncio contido no âmago das horas que se resguardavam para orarem em coro: os homens, as mulheres e as crianças e os velhos.
Com a mesma facilidade com que malhavam com o mangual o centeio na eira, gozavam de uma perspetiva angelical quando o dourado resplandecia do cereal agora liberto nas mãos das mulheres que o limpavam e o juntavam na eira. Detentores de uma força doada pela serra, ou sabe-se lá de onde, ou de que Força Maior lhes chegava a sua força, assim como não se sabe o porquê de toda esta bravura a saltar-lhes das mãos, quando treinavam e levavam os bois para as lutas na feira do fojo. O que mais se aproximasse do que eles delegavam como sendo um possível vencedor, assim o seria.
Assim eram também os desígnios de uma terra infértil mas fecunda nos momentos fulcrais de uma semente lançada à terra. Do mesmo modo, assim eram por norma as formas construídas a pulso pelas suas próprias mãos, tal como os desígnios da fé. Assim se ajoelhavam com as mãos no peito, o lugar onde o coração se assume o ponto central de todas as vontades dos homens de boa-fé.
Igualmente se diluíam os tempos, apesar dos da guerra já passados e ultrapassados no além-mar, o Ultramar desconhecido e foragido no mato fechado. Ali foram obrigados a criar defesas, impedindo-os de caírem por terra, pelo fato por não saberem nem conhecerem a dura realidade que os levara ali. Que País o seu, onde nasceram, se criaram e se fizeram à força bruta da montanha que os não ensinou a conhecer outras lutas que acontecem no pensamento, o lugar onde se criam ideias, e objetivos e até se materializam os sonhos. O lugar onde nascem os ideais, e por sua vez as ideologias políticas, as sociais, e até as religiosas. Que país foi este que não lhes legou, senão as mesmas escolhas que se baseavam, única e simplesmente na terra, porque só da terra lhes vinha o sustento. Esta a sua Pátria que não lhes forneceu o conhecimento necessário de modo a possuírem a mesma agilidade no pensamento, como a que tinham nas pernas, nos braços e nas mãos, por forma a entenderem antes de mais, o que os levara ali tão longe da família e da terra. Da sua tão amada terra.
Mas depois, regressados do mato, o mato onde se fizeram mais homens, enquanto que nas suas terras, nas aldeias da sua Serra do Montemuro, as suas mães, irmãs, esposas, se fizeram também mais mulheres. Todos juntos, eram mais conscientes de outros mundos, de novos sonhos a nascerem breves como o são os tesouros ainda escondidos nos seus próprios corpos.
Sofreram na pele também as consequências de uma guerra Mundial, e as dificuldades porque todos passaram apesar de terem de seu, um pedaço de terra para cultivarem, foram muitas. A necessidade que a Europa tem em se reerguer faz desencadear uma série de movimentos migratórios, e a década de sessenta, é assim um marco para a vida dos portugueses, e do próprio país, que apesar de não ter participado activamente na grande guerra, sofreu também com esse flagelo. Deste modo, e perante os movimentos migratórios externos e internos, dá-se uma reviravolta em termos de mentalidade de um povo. O surgimento da globalização, altera todo este panorama, sendo o sector primário o primeiro a sentir alterações significativas com a deslocação de pessoas. Muitos alcançaram fronteiras, porém a mais relevante foi a passagem para França, País que aceitou muitos portugueses das aldeias de Castro Daire e com eles a mão-de-obra necessária com maior incidência nos sectores secundário e terciário.
Em Lisboa, a industria era detentora de um poder crescente para o próprio País, que se prestava a um desenvolvimento económico sob um regime pouco versátil, pois se do Estado Novo se tratava, de um vigor novo se servia para dar o arranque a uma economia de mercado, deixando a economia de subsistência no sector que ele próprio incentivara a desenvolver, o sector primário, ao abandono. Estávamos então perante um desenvolvimento baseado mais no crescimento económico.
Internos os novos movimentos alternados com alguma agilidade mental, assim migram todas as vontades de se saberem donas de um corpo, mas também de um pensamento mais equilibrado e reestruturado já com a evolução dos tempos. As fábricas enchem-se de mão-de-obra chegada das terras altas, ali onde o vento sopra e não arreda pé de um objetivo vivo, como vivos são todos os pensamentos agora mais edificados em algo maior e mais cuidado. Apesar da pouca instrução, dado que muitos saiam das suas aldeias apenas com a terceira classe, estas pessoas integram-se com grande facilidade como operários, pois a força de que são detentores não é de todo ultrajada, por quanto possuírem alguma consciência a assumir-se entretanto, dona e senhora e a ocupar o seu lugar num período de ascensão aos desejos de liberdade. Este período luminoso provém da força que lhes foi dada, por quanto subirem ao alto da serra do Montemuro, e desta forma serem conhecedores das formas da contagem certa do tempo para virarem as águas, assim como este se apresentaria no dia seguinte; se iria chover, ou se faria sol, se o vento iria uivar na noite, ou se somente, um dia para a oração.
A Zona Oriental da Cidade de Lisboa vê-se assim a braços com a decadência do seu fulgor aristocrático perante as invasões de uma industrialização calorosa, com gente vinda de vários pontos do País. Desta forma, Olivais, Poço do Bispo, Marvila, Beato, Xabregas, Madre Deus e outras áreas limítrofes, sofrem as mais variadas alterações, quer a nível demográfico, geográfico, e social, que novos ventos do Norte, com maior incidência nas pessoas que vieram das aldeias da Serra do Montemuro em Castro Daire, provocaram. Temos como exemplo a Quinta dos Alfinetes que pertencia ao Duque de Lafões, a Quinta da Salgada, situada na Azinhaga da Salgada, onde se podia admirar um palácio e uma ermida e que agora se limitam a ser mais um conjunto de ruínas.
Com todas as implicações que este movimento migratório possa ter criado na cidade, o certo é que foi ele o motor para que Indústria fosse detentora de um poder laboral que manteve a sua pujança durante décadas. Porém, nem os empresários nem o próprio estado criaram condições de vida com alguma dignidade, para quem vinha de braços abertos, abraçar a cidade, tal como abraçavam a serra, o rio, as suas gentes, os seus usos e costumes.
Com objetivos definidos iniciaram uma nova vida. A cidade transformou-se num misto de contradições supostamente enquadradas na alienação ao património cultural edificado ainda nos palacetes que sobrevivem a esta invasão industrial com mão-de-obra vinda das montanhas. Trouxeram armas nunca antes pensadas para a realização do maior acontecimento que iria marcar para sempre as ruas, e ruelas, os becos e as quintas abandonadas e os quintais desesperançados. Trouxeram ventos admiráveis de contentamento para a remissão de todos os pecados que mendigavam pelos atalhos ainda frescos de uma cidade com o rio a seus pés. Trouxeram ainda conhecimentos de um tempo como se a esfera armilar nunca tivesse saído das suas mãos.
Navegavam ora com contentores puxados pela força dos seus braços, ora com enxadas cavando quintais nas quintas entretanto abandonadas, ou adquiridas pela autarquia e deixadas à sorte de quem quisesse desbravar o mato e as silvas deixados ao acaso. Ainda hoje quem quiser aventurar-se por certos caminhos com casas em ruínas, onde também se vêem montes de pedras mal arrumadas, podem constatar-se todas estas verdades de um povo que não se ajoelhou perante as dificuldades de uma vida, numa cultura de subsistência nas suas aldeias, assim como o não fez, diante de uma cultura onde a economia servia uma sociedade capitalista permitindo que vivessem em condições miseráveis pouco dignas de quem tanto semeou e trabalhou a terra num minifúndio recôndito por entre serranias.
O que se ganhava era muito pouco, assim como escassos os recursos para fazerem face à vida na grande cidade, limitaram-se inicialmente ao espaço que consistia num aglomerado barracas num terreno que pertencia à Quinta Marquês de Abrantes, mesmo ali junto à passagem de nível que separava este do alto de Marvila. Este Palacete setecentista dos Marqueses de Abrantes fora transformado na primeira Escola Normal Portuguesa, o conhecido Pátio Colégio, e hoje conhecido pela Sociedade Musical 3 de Agosto, onde as marchas de Marvila ensaiam para o desfile dos Santos Populares.
(O ruído que os comboios faziam sempre que aqueles portões enormes de ferro se fechavam era uma afronta aos meus sentidos todos, já para não falar do cheiro nauseabundo dos esgotos a céu aberto que escorriam por aquele chão de terra deixando tudo alagado e enlameado.)
O autocarro nº 39 da Carris, em Lisboa era um encontro de todas as correntes migratórias, mas agora com os sapatos enlameados, por não se encontrarem com outras correntes duradoiras e límpidas como as do Rio Paiva e as das águas que desciam das levadas na serra. Da Praça Leandro da Silva no Poço do Bispo, o eléctrico nº 27 que se dirigia a Campolide, passando pelo Alto de São João, era também o princípio dos nossos passos, para darmos voltas à cidade. Com ou sem lama nos pés lá íamos a seguir o nosso destino ou a forçar destinos e encontros com que se prestassem a ser mais um fado cantado lá para os lados de Alfama, do Bairro Alto ou da Madragoa.
A Freguesia de Marvila, uma das maiores freguesias da cidade Lisboa, a que sustentou a entrada de grande parte das gentes das Terras Altas, seguindo-se-lhe a Freguesia do Beato, ali junto ao rio Tejo, onde ainda se ouvem as máquinas, e se vêem os braços de alguns meu conterrâneos. Muitos vieram trabalhar na Fábrica Nacional de Sabões, na Fábrica da Borracha, na Fábrica dos Fósforos, nos armazéns de vinho, Abel Pereira da Fonseca, assim como na Nacional, hoje “Cerealis”, a que mais gente empregou vinda das aldeias de Castro Daire.
Quem não se lembra do célebre slogan lançado pela então Direção de Marketing, desta empresa, “O que é Nacional é Bom”? De facto, este spot publicitário, foi e ainda é imagem de marca de um produto mas hoje utilizado para tantos outros fins. Quase se poderia dizer que ficará para a história desta empresa na mesma proporção, que Fernando Pessoa está para a poesia, independentemente dos poemas que possa até ter criado, enquanto ali escriturário.
Este slogan tão conhecido ainda nos dias de hoje, parece-me um hino à Nacionalidade, que se pode caracterizar de uma forma vincada, na origem de um povo que nasceu e viveu para a terra e dela se afastou para criar vida em outros locais. Ainda me lembro do dia em que foi lançado a par de um produto enquanto também eu operária nesta fábrica. Mais tarde a trabalhar também diretamente na área do secretariado no departamento de Marketing, antes da sua reestruturação na década de noventa, tive contacto com as pessoas que o idealizaram. Director de Marketing e Gestores de Produto. As farinhas da Nacional, as massas, as bolachas, todos estes produtos tiveram direito a este spot publicitário e foram até protagonistas nos grandes hipermercados a par com o Homem Estátua, que muitas vezes encontrávamos nas ruas da baixa lisboeta, quedo, calado, inerte, desfigurado. (Uma forma de ganhar a vida na cidade)
O Homem Estátua foi também um dos recursos de mão-de-obra publicitária paga pela Nacional, porque o que é Nacional é mesmo bom. Ficava ali horas a fio, sem mover um músculo nem pestanejar um olho. Era o seu a seu dono, ou o dono no seu trono, porque outros ares e outros tronos nos chegavam por dentro das paredes das instalações da fábrica quando finalmente decidiram mostrar os vestígios de um convento, “O Convento do Beato”, nas suas instalações ainda então a laborar. Faziam-se marcações para visitar o local, que segundo nós seria impensável, a existência de tal contradição ante operários e máquinas como o principal, motor ali a funcionar, e não outro ligado a Deus e aos Santos, que eles tinham como mentores de uma ordem vigente ainda a fazer furor em seus corpos, que outras águas bentas benzeram e até receberam.
Tratava-se do Antigo Convento do Beato António ou Convento de São Bento de Xabregas, que teve início no século XV, mandado construir pelo rei D. Afonso V. Foi o que menos sofreu com o terramoto de 1755, o que o levou a acolher os religiosos do Convento dos Lóios e passou também a ser sede da paróquia de São Bartolomeu do Castelo. Um incêndio em 1840 destruiu parte da igreja e do convento, e tal como outros edifícios de índole religiosa ou não, a indústria tomou posse.
A então “Nacional, Companhia Industrial de Transformação de Cereais”, utilizou aquela parte do edifício, transformando-a numa das instalações da sua fábrica, e que só muitos anos mais tarde devolveu o convento à sua condição. A Nacional adquirida pelo grupo “Amorim Lage”, detentor da marca “Milaneza” contribuiu para o crescimento do maior grupo de transformação de cereais em Portugal, conhecido como “Cerealis”.
Grande parte das indústrias de então, já não se encontram em funcionamento, mas, a Nacional, apesar de laborar em menor escala, conta ainda com muitos operários nascidos nas aldeias do Montemuro, e que fazem furor nos corredores onde as máquinas esbracejam contra outras forças que estarão para chegar, quando manifestadas por novas forças tecnológicos a arrancarem vontades e sentimentos vivos, para coabitarem com sons metálicos da máquina que se prontifica para dominar a mente humana e se apoderar do mundo. A nova era robotizada no espaço, que, garantidamente foi chão de terra, e rios de lágrimas correntes onde os corpos coabitaram e prepararam a viagem até ao sonho. O homem, prestes a ser colocado num novo espaço bélico, se a ele se sujeitar como escravo dos tempos modernos, anda agora perdido num lugar-comum, convertido em masmorras sinuosas e desabitadas.
Enquanto a máquina do tempo se prontifica para ajustar o homem ao seu meio ambiente futurista, a humanidade refugia-se em outros movimentos que os levem a conhecer uma nova ordem garantidamente assumida como a verdade que se precisa conhecer num espaço cuidado para receber as novas formas de pensar.
Por isso, apesar das grandes transformações, as quais têm como pano de fundo o elemento humano agora mais desenraizado do próprio espaço que ajudou a criar, também defraudado aos níveis, social, demográfico e geográfico, pode verificar-se a predominância de valores assentes nos usos e costumes de um povo, que teve como ponto de partida a migração na década de sessenta. Foram estes valores que fizeram prevalecer até aos nossos dias, uma série de conceitos que determinaram a forma de vida de uma das zonas mais emblemáticas da cidade de Lisboa – A Zona Oriental.
Na Zona de intervenção da Expo98, agora o Parque das Nações e que eu costumo apelidar de “Uma cidade dentro de outra cidade” deu seguimento a este conjunto de variações, com fundamentos criados para o desenvolvimento económico a par de um crescimento económico. Mas, como diz o ditado, “quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro”, por isso vejo um muro a criar a divisória entre o “bem” e o “mal”, sendo que o mal parece existir na vontade que os conventos e os palacetes abandonados outrora utilizados pela indústria, têm de se manter. Uma sequência de contradições onde o ser humano parece cair na sua própria engrenagem, quando tenta abstrair-se dos espaços fechados e se divide entre doutrinas contraditórias, também em ruínas.
Ainda hoje se pode observar em grande parte das suas ruínas, o esforço e a vontade de um povo em tentar firmar-se, tal como se firmaram as leis do Estado Novo, e até as leis da própria Igreja, onde todos os batismos se deram e se receberam nas Terras Altas do Montemuro.
Por outro lado, o bem parece estar sempre ao lado do belo e do resplandecente, que é quando se passeia perto do rio e se admiram os grandes edifícios, os terceiros maiores arranha-céus, tanto lisboetas como portugueses, aquelas duas torres gémeas junto ao Centro Comercial Vasco da Gama, as torres de São Rafael e São Gabriel imponentes como dois grandes barcos junto ao Tejo.
.
Grande parte das indústrias de então, já não se encontram em funcionamento, mas, a Nacional, apesar de laborar em menor escala, conta ainda com muitos operários nascidos nas aldeias do Montemuro, e que fazem furor nos corredores onde as máquinas esbracejam contra outras forças que estarão para chegar, quando manifestadas por novas forças tecnológicos a arrancarem vontades e sentimentos vivos, para coabitarem com sons metálicos da máquina que se prontifica para dominar a mente humana e se apoderar do mundo. A nova era robotizada no espaço, que, garantidamente foi chão de terra, e rios de lágrimas correntes onde os corpos coabitaram e prepararam a viagem até ao sonho. O homem, prestes a ser colocado num novo espaço bélico, se a ele se sujeitar como escravo dos tempos modernos, anda agora perdido num lugar-comum, convertido em masmorras sinuosas e desabitadas.
Enquanto a máquina do tempo se prontifica para ajustar o homem ao seu meio ambiente futurista, a humanidade refugia-se em outros movimentos que os levem a conhecer uma nova ordem garantidamente assumida como a verdade que se precisa conhecer num espaço cuidado para receber as novas formas de pensar.
Por isso, apesar das grandes transformações, as quais têm como pano de fundo o elemento humano agora mais desenraizado do próprio espaço que ajudou a criar, também defraudado aos níveis, social, demográfico e geográfico, pode verificar-se a predominância de valores assentes nos usos e costumes de um povo, que teve como ponto de partida a migração na década de sessenta. Foram estes valores que fizeram prevalecer até aos nossos dias, uma série de conceitos que determinaram a forma de vida de uma das zonas mais emblemáticas da cidade de Lisboa – A Zona Oriental.
Na Zona de intervenção da Expo98, agora o Parque das Nações e que eu costumo apelidar de “Uma cidade dentro de outra cidade” deu seguimento a este conjunto de variações, com fundamentos criados para o desenvolvimento económico a par de um crescimento económico. Mas, como diz o ditado, “quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro”, por isso vejo um muro a criar a divisória entre o “bem” e o “mal”, sendo que o mal parece existir na vontade que os conventos e os palacetes abandonados outrora utilizados pela indústria, têm de se manter. Uma sequência de contradições onde o ser humano parece cair na sua própria engrenagem, quando tenta abstrair-se dos espaços fechados e se divide entre doutrinas contraditórias, também em ruínas.
Ainda hoje se pode observar em grande parte das suas ruínas, o esforço e a vontade de um povo em tentar firmar-se, tal como se firmaram as leis do Estado Novo, e até as leis da própria Igreja, onde todos os batismos se deram e se receberam nas Terras Altas do Montemuro.
Por outro lado, o bem parece estar sempre ao lado do belo e do resplandecente, que é quando se passeia perto do rio e se admiram os grandes edifícios, os terceiros maiores arranha-céus, tanto lisboetas como portugueses, aquelas duas torres gémeas junto ao Centro Comercial Vasco da Gama, as torres de São Rafael e São Gabriel imponentes como dois grandes barcos junto ao Tejo.
.
Ao fim de tantos anos numa cidade em franco desenvolvimento e crescimento, estão agora em frente ao maior evento da cidade, ali mesmo tão perto do sítio onde de sapatos enlameados navegavam por outros mares, como se a Esfera Armilar se demorasse nas suas mãos, enquanto outros projetos humanos estariam para chegar. Ali se lançam em olhares de admiração, enquanto sossegam o corpo olhando para o céu, à espera de novos ventos de esperança, quando a gigante Esfera Armilar se afirma no centro convexo de um olhar para o futuro. Ali está ela no Parque das Nações, no Edifício Ecran, o maior da Península Ibérica, em construção contínua. Tem a dimensão do maior navio cruzeiro do mundo, num Projeto do Arquiteto Trofa Leal. Uma das suas evidências é a Esfera Armilar. O Painel de Azulejos colocados na parte frontal é da responsabilidade de Jorge Martins. Os azulejos: Raton de Viúva Lamego.
Nas ruas, um cheiro a novo, um modo de vida que se vê afluir no tratamento diário que dão aos jardins. Bem cuidados os espaços verdes, mas descuidados os olhares para o chão onde a água escorre por um sistema de rega automático, renegando a enxada e os movimentos dos braços que não se colocam de feição em direção à terra. Aqui onde só o poder económico designado por crescimento económico tem lugar, mas isento do tal desenvolvimento que todos precisamos, para fazer desta cidade e do povo que nela habita um lugar onde os muros não existam. Aqui, poderiam sair das ruas os mendigos, e abrigarem-se entre as paredes das fábricas que ainda resistem mesmo que em ruínas. Paredes negras, grafitadas, esquartejadas pela máquina do tempo, que irão por certo dar lugar a um empreendimento num condomínio fechado, com piscina e jardins onde o mesmo sistema de rega fará furor por entre arbustos e relvados verdejantes. Nada como o que viram e aprenderam quando levavam as águas a saltitar pelos caminhos de xisto.
Apesar do denominado movimento migratório da década de sessenta ter sido um sucesso, no que concerne à melhoria das condições de vida de muitos, estamos perante um retrocesso provocado por uma crise sem limites, forçados a aumentar as estatísticas do número dos desempregados, e prestes a regressar antes do tempo previsto às nossas origens. Enquanto isso, os nossos descendentes irão provocar mudanças em outros países de uma Europa desajustada, e também ela desenraizada do mundo. Inicia-se assim mais um ciclo de vida que tem como consequência o abandono pelos jovens do seu País de origem, contribuindo para uma alteração aos níveis demográfico e social nunca antes vista. Os movimentos migratórios criam novas mudanças que operam agora em maior escala a nível mundial.
Portugal, simplesmente um país sem fronteiras, uma pátria sem limites, que cria distâncias entre os seus, sem sequer conseguir fazer frente aos interesses de uma ordem vigente instalada e não reclamada por quem de direito, perante a qual se subjuga a um poder descomunal, não se define para o bem de todos.
Eu Sou Dolores Marques, Coração da Terra
Fotos de minha autoria
Nas ruas, um cheiro a novo, um modo de vida que se vê afluir no tratamento diário que dão aos jardins. Bem cuidados os espaços verdes, mas descuidados os olhares para o chão onde a água escorre por um sistema de rega automático, renegando a enxada e os movimentos dos braços que não se colocam de feição em direção à terra. Aqui onde só o poder económico designado por crescimento económico tem lugar, mas isento do tal desenvolvimento que todos precisamos, para fazer desta cidade e do povo que nela habita um lugar onde os muros não existam. Aqui, poderiam sair das ruas os mendigos, e abrigarem-se entre as paredes das fábricas que ainda resistem mesmo que em ruínas. Paredes negras, grafitadas, esquartejadas pela máquina do tempo, que irão por certo dar lugar a um empreendimento num condomínio fechado, com piscina e jardins onde o mesmo sistema de rega fará furor por entre arbustos e relvados verdejantes. Nada como o que viram e aprenderam quando levavam as águas a saltitar pelos caminhos de xisto.
Apesar do denominado movimento migratório da década de sessenta ter sido um sucesso, no que concerne à melhoria das condições de vida de muitos, estamos perante um retrocesso provocado por uma crise sem limites, forçados a aumentar as estatísticas do número dos desempregados, e prestes a regressar antes do tempo previsto às nossas origens. Enquanto isso, os nossos descendentes irão provocar mudanças em outros países de uma Europa desajustada, e também ela desenraizada do mundo. Inicia-se assim mais um ciclo de vida que tem como consequência o abandono pelos jovens do seu País de origem, contribuindo para uma alteração aos níveis demográfico e social nunca antes vista. Os movimentos migratórios criam novas mudanças que operam agora em maior escala a nível mundial.
Portugal, simplesmente um país sem fronteiras, uma pátria sem limites, que cria distâncias entre os seus, sem sequer conseguir fazer frente aos interesses de uma ordem vigente instalada e não reclamada por quem de direito, perante a qual se subjuga a um poder descomunal, não se define para o bem de todos.
Eu Sou Dolores Marques, Coração da Terra
Fotos de minha autoria
Sem comentários:
Enviar um comentário