Imagino um cenário contrário à corrente
moribunda na outra margem,
do outro lado do rio, do outro lado
do seu próprio enredo imaginado
Como estará a minha linda Serra
dantes revestida de prosas virtuosas
emolduradas pela poesia
de vozes antigas ?
Que é das paisagens graníticas
e do rio
e das fontes
e dos penedos
e das águas pelos campos
a jorrarem a verdade das nascentes?
Que é do sermão por quanta desgraça colada nas paredes de xisto
a escorrer-se em lamentos
pelos males de outrora ?
Sofrem castigados pelos ventos,
os pés,
pegadas no ventre do monte indigente
Descalços, vão...
e as vozes altas também são
crentes no voo dos falcões
com novos versos arremessados de além mar
por não saberem navegar em rios calmos e transparentes
A poesia derrama-se em silêncios escusos
por monte e vales
por inconsequentes gestos defraudados
nos dedos incertos trancados nas mãos
Abrem a boca à hóstia sagrada
esborrachada no céu da boca
como quem come feijões com couves tronchas
e morde ao de leve a pele do salpicão da língua
Respiram odores bravios, as pedras das Igrejas
rabiscadas com boas novas dos tempos antigos
e em água benta se baptizam todos os crentes
e os não crentes no Verbo
que dá voz à poesia de um tempo passado
que já não é tempo para ninguém
Dolores Marques
(A minha aldeia é Moção mas vejo todas elas com um os mesmos olhos)
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