domingo, 2 de janeiro de 2022

Vôos rasgados

Os voos rasgados 

dos pingentes verdes 

nos ramos

a beberem do burburinho

um céu de lágrimas

ali despejadas


As asas sarapintadas 

do d’ouro trigo das searas

o doce incenso dos fenos

que dançam descuidados

no pico alto das levadas


Dos fundos

nasce um novo fundo

a declinar o apego

às correntes desalmadas


Cálidos os suores frios

nas mãos inflamadas 

submetidas à sorte

de outras sortes enamoradas


E os sons…os sons

inaudíveis das margens 

estilizadas, ali profanadas


Dolores Marques



 

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