quarta-feira, 20 de abril de 2016

Apresentação do livro "Simbioses Montemuranas" por Ana Coelho

O romancista não escreve para explicar nada, mas para registar um conjunto de experiências reais ou imaginárias, cujo sentido ele só apreende como forma estética, não como conceito explicativo. Daí o sentimento de descoberta, e ao mesmo tempo de perplexidade, que nos assalta a
o lermos um bom romance. Ele nos mostra algo de muito importante, mas qu
e não sabemos precisamente o que seja. Por isso é que ninguém pode dizer qual “o” sentido de um romance. Ele tem necessariamente muitos, e até contraditórios.
Um romance deve dar o que pensar, não um pensamento pronto.
E a poesia, é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos ou críticos, ou seja, ela retrata algo em que tudo pode acontecer dependendo da imaginação do autor como a do leitor. 
Simbioses Montemuranas é um romance poético porque nele viajamos pelos lugares e povos de uma forma tão intensa e natural que nos sentimos no meio ambiente que a Autora Dolores Marques nos retrata, sem deixar de ser a Poeta que nos deixa os seus poemas e a abertura para o nosso sentido das coisas e da vida. Com mestria Dolores Marques entrega-nos a nós leitores um 2 em 1…uma romancista e uma Poeta que une estes dois conceitos de forma natural e grandiosa. 
Um foco muito marcante desta obra é a Mulher _ Mãe a quem ela dedica o livro_ o pilar da família, matriarca e trabalhadora de sol a sol, sem descorar a descriminação sexista, numa só frase isso é notório, página 17 “Dariam nova vida à aliança, que fez ter dono e senhor de todos os seus pensamentos” …mulher fiel anos a fio numa espera de esperança pelo homem que emigrou e não mais voltou. 
Encontramos em toda a narrativa um enquadramento histórico e paisagístico muito bem conseguido. 
Dolores Marques nesta obra viaja pelo tempo como ela mesma nos diz na página 60 “Tento encontrar um ponto encontro com o passado”.
Abre-nos o olhar para o meio rural no passado, não muito distante e talvez mesmo, bem perto ainda da realidade, neste espaço geográfico. 
Desperta-nos para a realidade da infância desse tempo, o ensino não era obrigatório, e visto pelas famílias e crianças de uma forma bem distinta da nossa visão de hoje.
As crianças começavam muito cedo a colaborar nos trabalhos rurais e da família. À primeira vista pode parecer uma situação negativa, não obstante dava à infância uma responsabilidade real da vida também uma visão mais livre de tudo o que os rodeava.
Voltando à inquietude do regresso ao passado Dolores Marques oferece-nos como personagem principal João Fernandes um homem diferente, numa vida diferente daquilo a que chamamos comum, um destino escolhido ou acolhido que este homem se orgulha, sendo do povo e vivendo à margem da sociedade, é um homem culto que busca o conhecimento, no entanto, não procura o luxo…vive livre com o seu fiel amigo Piloto…que bom é ter um fiel amigo e partilhar o que de melhor temos!
Abro aqui um parênteses na obra e volto ao meu pensamento enquanto leitora: Dolores procura a história de um homem não sendo um homem qualquer, não é um herói nem um burguês?…muitos autores escolhem personagens notáveis das suas gentes para romancearem e ou fazerem um livro que desperta logo a atenção de todos …a própria história assim o faz também, sabemos muito pelos registos de livros antigos sobre os nobres, quase nada ou mesmo nada do povo. Dolores Marques quer dar a conhecer os homens da Terra, a Terra que lhe corre no sangue, a Terra que não deixa de respirar…escrever sobre anónimos e humildes um ato de coragem e de poesia, a poesia é a vida real do povo autêntico…aquele povo que trabalha e tem calos nas mãos…rugas nos rostos que são imagens fotográficas nesta obra e  na memórias da autora.
Além da personagem João Fernandes ou melhor João Ladrão como ficou conhecido, Dolores Marques não deixa de nos mostrar muitos outros homens e mulheres de verdadeiro talento na vida e com vida…humildes, anónimos…que para ela são heróis…ela que passou do campo para a cidade e nos mostra numa autobiografia que vamos descobrindo discretamente ao longo da narrativa e como ela já nos testemunhou aqui na nossa conversa aberta para lá da obra, notório é que Dolores Marques não deixou de Ser Povo de sentir o pulsar da Terra… e de querer sempre e mais, aprender do povo, com o povo e não só em leituras ou pesquisas virtuais…Ela caminha pelos trilhos montanhosos para os relembrar e os sentir no seu mais intimo ser Vivo…
Muito interessante também é a forma como nos vai dando a conhecer o povo e os ditados populares…enriquecedor enquanto narrativa para os leitores. 
Já fiz referência a Dolores Marques como romancista e poeta mas temos mais nesta obra; temos um ser espiritual que questiona a vida e fala de Amor: pagina 93 “Só o Amor nos enche as medidas, e, rogamos então por mais luz a iluminar os nossos dias. Vivemos mediante um querer tudo só para nós mas, e os outros? “
A mulher da cidade com o sangue da terra; a mulher da terra e da cidade que não esquece o Universo e a travessia de Ser Humano, dela e dos Outros…
E fecho esta apresentação da Obra Simbioses Montemuranas lendo o fecho da própria obra porque ao refletir para esta apresentação e após várias leituras da obra, a minha vontade era a de vos contar toda a história ou histórias que me ficaram retidas no olhar, mas não o posso fazer, para não vos tirar o prazer da descoberta…certa que terão momentos sublimes de reflexão e vivências na leitura deste Livro.

"Cicatrizam-se as formas ausentes do mundo, que se completam em círculos fechados. Caminhantes, somos todos em caminhos vários, dando movimento ao mundo das formas. Geometricamente falando, somos todos Um, mas nem todos sabemos, a ordem com que se inicia o movimento indicador de uma nova ordem – A Ordem do Movimento Intercalado das Formas. Andamos em movimentos contrários, a dar cor e luz à vontade de sermos somente um movimento nascente, que cresce à vontade por dentro dos nossos olhos. 
Quando se dá o encontro do céu com a terra, a vida é um renascimento constante de emoções. À flor da pele nascem novos caminhos de luz, mas também novas viagens coladas à memória dos tempos vividos na aridez da serra.  
A energia feminina e a masculina: juntas numa dança celestial. A vida dotada de calor humano, ao divagar por entre as várias histórias que a mesma contém. Aqui a fé anda de braço dado com a dor, mas é ela, a forma mais carismática de alcançar a própria fé com palavras mansas, de um coração elevado ao alto".

Parabéns Dolores e grata por me dares a conhecer mais esta obra…que me deixou; sem dúvida mais rica literariamente falando e como ser humano… Um livro com consistência e essência!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Simbioses Montemuranas o próximo livro de Dolores Marques

Apontamentos

“Neste seu livro, Dolores Marques vai rebuscar memórias da sua infância de que foi testemunha em plena serra do Montemuro e que vão no mesmo sentido de obras  de autores consagrados como Aquilino e Torga!

 Dolores Marques convida-nos a recuar no tempo e acompanhá-la numa incursão pela serra do Montemuro para nos relatar (contar) histórias de vidas humanas sofredoras e primitivas e que souberam adaptar-se àqueles ambientes naturais e de montanha!... Uma obra que faz parte do país real!”

(Augusto Silva, natural de terras de Paiva (Douro), residente em Ovar)

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“Tantos adjetivos carregados de sentimento dão uma força grandiosa ao que escreves. Nem sei...pensando bem, tens um estilo genuíno neste livro! Não é um romance, não é um conto, não é um documentário nem um livro "para se adormecer"!

É sem dúvida, uma obra biográfica com muito, muito autobiográfico. Eu diria, que é sobretudo um precioso documento histórico por tudo o que escreves. Não é uma escrita técnica, nem uma escrita sociológica, trata-se duma mistura (alinhada) de costumes, acontecimentos, factos e modos de vida de um povo impar, que tu descreves na perfeição”.

(Jorge Esteves, natural de Ribas, Castro Daire,  Emigrante)

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“Criaste um singular Planeta, ao qual chamaste "Planeta Moção". Na tua alma encontraste  a força que  fez girar o movimento de rotação  em torno de um eixo, viajando pelos hemisférios. Povoaste e  provaste-os com a essência  do povo montemurano.  Enlaçaste culturas, percorrendo  com  fios de um infinito novelo, sentires do chão do concelho de Castro Daire, Lisboa e até do outro lado do Oceano, o Brasil.
Por terra ou por mar, foram estes os principais pontos de chegada, alguns sem direito à partida,  nem ao  reencontro dos mesmos corpos e das mesmas paixões. Vidas cruzadas  e descruzadas pelo destino. Vidas fechadas na teia das celas, onde o esquecimento fazia de alguns seres, ignorados  e indesejados, vidas tecidas numa cruz, mais ou menos pesada, mais ou menos sangrenta, coroada de espinhos, numa perfeita simbiose que nos leva a emergir no fel de tempos sofridos e amargurados.
Interessante...este desenrolar das "contas de um rosário " e de seus mistérios! Cada personagem uma oração sofrida, cada personagem uma prece. O seu todo formam um terço, que ao serão tem que ser passado e repassado, mesmo que o aroma das urzes, das giestas…seja o incenso infiltrado nas folhas! Um livro que põe a nu retalhos de vidas montemuranas. Uma simbiose que se enlaça com emoção”.

(Celeste Almeida, natural de Mangualde, a viver em Ribolhos, Castro Daire)