segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Parabéns ao Montemuro


Parabéns ao Montemuro e a todas as gentes que ainda insistem neste palpitar. 
Parabéns à Terra, às Mulheres, e a todos quantos guardam ainda nos olhos, a última verdade do seu Ser real e verdadeiro. 

Olhares que se liguem ao Ser inteiro, e não se encolham por entre silhuetas perdidas nas sombras do caminho.

Parabéns a todos os filhos do Montemuro.
Parabéns a todo esse universo de luzes e cores que ainda alcança os filhos além fronteiras. Abraços.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"SIMBIOSES MONTEMURANAS", o novo livro de Dolores Marques, brevemente.




(....)
vivia à custa, do que com pouco esforço fazia cair nas suas mãos, num período em que a idade, às vezes é a conhecida "idade do ouro". Porém, a ironia do destino fê-lo completar a sua história de vida, vivendo da caridade dos da terra. 

Um absurdo, este pedaço de vida, que conta com muitos outros absurdos, que impediam o Ser, de o ser verdadeiramente, por não lho ser permitido.
A este não lhe foi consentido ser criança, sequer sonhar e projetar o olhar para lá daquele horizonte.
Tinha, às vezes para enganar a fome, uma côdea de pão antes de adormecer.
(...)
(foto incluída no livro, daquela que foi a última residência, até à sua morte)

Simbioses Montemuranas - Um Livro

(...)
Pareceu-lhe que alguém chamava por si. Estanca de imediato os passos! Porém sem se atrever a olhar para trás, ouvia agora com maior nitidez uma voz de criança, que lhe dizia:
- Nem tudo "são rosas, meu Senhor". Perderam-se pelo caminho, quando se decidiu colher o dourado dos campos, meu Senhor.

Falava com doçura nos olhos, enquanto ele, num ranger de dentes que se sobrepunha entre a língua agora amaldiçoada, seguia em frente. Apertou bem o casaco, que o frio, a ninguém poupa a forte aragem provocada pela geada, que de noite chegou. Levou a mão ao bolso e retirou de lá um rebuçado, que enfiou dentro da boca.
Antes de se adentrar pela neblina, ainda olhou para trás, mas nada viu. Mais uma vez, se certificou da presença do Divino, a criar ecos nas pedras da calçada (...)


"Simbioses Montemuranas", o novo livro de Dolores Marques em projeto de edição

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre o livro "Prometo Voltar" de Jorge Ribas

“Era sem dúvida um cidadão do mundo, mas Portugal corria-lhe nas veias.” 

Sobre o livro: “Prometo Voltar” de Jorge Ribas 

O ponto de passagem para o outro lado do mundo estava ali gravado naquelas paredes, onde sua mãe se entregara ao destino, há tantos anos atrás. João,  após ter aprendido a ler e a fazer contas numa ardósia xistosa, sentiu-se nu na penumbra dos dias, quando da serra chegavam montanhas de nevoeiro a roçar-lhe a pele morena da face.

Também por entre “cordas de água” se desprendia em movimentos disformes, quando por via dos ventos de cima, tinha que lhe virar as costas, não fosse o diabo tecê-las e ver-se obrigado a virar  as costas ao Deus:
seu já conhecido e amigo nas horas tristes, em que subia as encostas da serra e ali ficava pegureiro sem medo, mas com horizontes fechados nos olhos.

Crescera o Homem Serrano que no Montemuro se completava, quando sentado nos penedos, se organizava em prol de um futuro promissor. Porém, nunca por nunca, avassalador do amor que nutria pelas suas gentes, pela sua terra, onde as rosas também nascem, se criam e amam todo este movimento celestial que sempre desce do alto, lá bem perto do céu.

Deste facto, tinha ele consciência plena. Enquanto as giestas se entregavam ao vento em tremeliques dançantes, ele via por entre aquele odor “giestal”, a força que o  levaria para lá, mas sem nunca faltar ao prometido que a sua consciência já determinara.

Também já o consentira, a sublime existência de dois seres que se completavam entre olhares e toques de mãos, quando no moinho se entregavam à doce e imaculada água que descia da serra, e fazia girar a mó que daria o pão nosso de cada dia. Às vezes até o pão que o diabo amassou!!!
Mas, Rosita trazia sempre aquele doce e intemporal sorriso nos lábios, aliado ao seu perfume natural, que tudo assim se completava neste cenário montemurano.

Cumpriram-se todas as promessas. Desfizeram-se todos os enganos, se os houve,  neste trajeto, quando no rio se fez homem em busca da aventura existencial, para se cumprir o sonho de ir mais além. Ali, naquelas águas mornas, as correntes amorteciam-lhe a queda e levavam-no a outras paragens.
O Rio Paiva, o seu rio, um forte simbolismo caracterizado pelos movimentos migratórios que o fizeram conhecer a maior corrente que nos corre a todos nas veias e que se chama, Amor.
O seu rio onde sentiu o primeiro toque feminino, que por consequência o fez conhecer a paixão, o prazer de se sentir também, amado e desejado.

Simbolicamente falando, estamos perante duas forças do feminino montemurano.  A corrente migratória de um rio, enamorado com a energia migratória serrana. E ali estava mais uma vez, a única força revitalizadora – o AMOR. Esta força, existente entre dois seres, nascidos e criados numa encenação perfeita, tendo como palco uma aldeia da serra do Montemuro.

Por fim, é chegado o momento de abrir os olhos e deixar sair os horizontes ali trancados. Novas correntes se apoderaram desta força da montanha, quando se lhe afiguram novos ventos, os quais, embora distantes, tinham ainda muito para contar. São estes ventos fortes do Norte, capazes de mover montanhas, mesmo as montanhas da saudade.

Nem mesmo a distância apaga as imagens dos elementos que caracterizam a serra do Montemuro:
Gente brava, aventureira, dura como o granito, que os lançou em desatino por conta das novas correntes que corriam nos seus corpos. Correntes migratórias que os levaram em busca do sonho ali nascido e criado.
Pelas suas raízes fundas, nunca a aridez de outras culturas as fez secar, porque os desertos infindáveis são agora correntes movediças, nos corpos que aguardam pelas novas chuvas de um outono em plena euforia.

Do outro lado do mundo, a força presente neste livro continua viva e intransigente.
A promessa ganha cada vez mais força, e a cada dificuldade, João vê-se confrontado com a exigência que a terra obriga. A sua terra, as suas gentes, e, principalmente aquela energia feminina, que no papel de sua mãe está bem patente neste vai-e-vem entre uma montanha e outra.

Poderemos até, firmar-nos na existência de um  fio de ligação entre a serra do  Montemuro e o Monte Cervino em Matterthon, que sempre existiu: dias em que de um lado surgia o nevoeiro a trazer aquela chuva miudinha, que formava cordões de água, e do outro, os farrapos de neve esvoaçantes, formando um todo unificado entre os dois lugares.

Por quanto me inteirar destes amiúdes gestos, que se soltam por entre as páginas deste “Prometo Voltar” de Jorge Ribas,  também gostava de me prometer ser fiel à leitura presente. Não me alongar por montes e vales numa procura incessante de simbologias de terra, em confronto com os outros elementos. Ouvem-se rumores de um  tempo, que ainda corre veloz por entre os trilhos da serra, cujos personagens deste livro calcaram e vincaram, como se os tempos fossem de primaveras sucessivas.

Neste tempo, em que o amor se consumava entre montanhas saudosas de afectos partilhados à mesma mesa, na Serra do Montemuro, os aromas primaveris dançavam entre portas, quando por via da velhice, aliada ao isolamento, seus pais tiveram que parar.
Sua Mãe soprava ainda as brasas de uma fogueira semi-acesa, enquanto o Pai se intrometia, ante a tristeza que se misturava por entre as ervas, ainda escorregadias de um inverno longo.

Mas, a força da natureza é algo de grandioso.
“Um bom filho a casa torna”, enquanto as duas forças unidas gerarem novos ventos de esperança, e com eles, novos acontecimentos  a fazerem crescer melodias nos pinhais, agora mais fartos.
A força da mãe presente neste livro, a MÃE que o gerou, e o criou...e o devolveu à terra, de modo que esta fizesse o seu trabalho de fundo, que era levar o filho a correr mundo. A energia da mãe, sempre em constante afirmação, quando por causa de se ver forçado a emigrar, se aventurou por caminhos novos e ali se completou.
Por fim o Amor. De novo esta energia que se abre em danças celestiais e permite a cada  Ser….ser um Ser.

Assim se constroem vidas, e se tentam calar os ecos de um passado de raízes fundas e lágrimas correntes migratórias. Porém, nunca por nunca se calam as vozes, tais ruídos de fundo que dão  vida a esses mesmos ecos. O rio ainda espera por ele e a serra igualmente o recebe, tal como o Amor que deixou para trás, mas aguardando que se cumprisse a promessa de voltar.

Lavoisier mostrou como:“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, mas as reações químicas, provocadas pelas alterações climatéricas no Montemuro, deixam implícito todo este movimento, a quem viaja para se fazer cumprir toda uma vida. Por isso, nada se compromete, sem deixar como palavra de honra, a única que se conhece, ajustada ao meio onde sempre se viveu e nunca se perdeu.

Tenho para mim que na ânsia de voltar, o livro ainda não se completou. “Prometo Voltar”, deste meu conterrâneo, Jorge Ribas, é uma viagem no tempo e no espaço, tendo, como ponto de partida e de chegada, os elementos que se surpreendem uns aos outros, por conta da força dominante, que o sentimento natural por todas as coisas, ainda suporta.

O fio de ligação entre as duas montanhas ainda não se quebrou! Daí, este imenso caminho ainda à espera que se prometa ficar.


Dolores Marques


Dolores Marques
Texto publicado no Notícias de castro Daire

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Simbioses Montemuranas


Quando leio sinto, mas ao sentir fecho os olhos para que às escuras encontre pontos de encontro, nas páginas folheadas e impregnadas de aromas. Existe algo de maravilhoso quando se sente a alma limpa de quem escreve. Assim como conseguirmos estar nos lugares percorridos, sentirmos o peso, assim como a leveza dos tempos, passado, presente e futuro. Por fim o autor, a revelar-se, porque não nos é possível escapar a isso.

Eu gosto disso. 
De me desnudar através da escrita. Não tenho receio dessa minha verdade, precisamente por isso, por ser verdade. Prefiro que me avaliem pelo que escrevo, do que por outra forma, que nem sempre é a mais credível, pelo simples facto de termos tendência em nos revermos no outro, fazendo dele um espelho. Talvez por isso, ao longo do tempo fui escrevendo nos sites da internet, com os nomes que já tinha criado para escrever. Mais tarde revelei quem era a tal de ÔNIX, a outra que da pelo nome de Dakini e por fim Epifânia &Ainafipe -estas duas escrevem em diálogo e o trabalho que tenho delas, tem mesmo o título "Ao Espelho".
Mas tudo isto para dizer o quê? Que existe uma reciprocidade nos sentimentos, tal como em tantas outras coisas, quando vos olho, como se isso não fosse nada de novo. Talvez por termos ocupado os mesmos espaços, sentido as mesmas vivências? Não sei! Mas sei que queria dizer-vos poucas coisas e já escrevi tanto. (E há tanto tempo que não escrevia uma carta).

Escrever para mim já se tornou um vício, sei lá, é assim como gostar de comer chocolates, bolos, sobremesas daquelas bem húmidas e igualmente cremosas. Sou tão gulosa! A acrescentar a isto, e por ter deixado de fumar, engordei e sinto-me estranha. Mas não me sinto mal. Sempre gostei de me ver ao espelho, e reparem na personagem que criei para conversarmos as duas.
Mas às vezes canso-me de tudo. 

Estive lá na aldeia. Deitava-me, às 21h30, e às 7h30 já estava na rua. Um dia cheguei a Castro Daire e após beber um café, estava já cansada de esperar pelo movimento das ruas.
Ali, até parece que não existe tempo. Será por estarmos mais perto do céu? Ou por termos uma visão alargada do mundo, quando subimos ao alto da serra e o nosso olhar se multiplica em simbioses múltiplas, e desclassificadas? 
Talvez se encontrem as duas partículas rochosas, enquanto fechamos os olhos numa espécie de meditação profunda.

Dolores Marques