terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Coração da terra


Apesar da ausência
Apesar do medo
Apesar da busca incessante
De todos os segredos ocultos
De outros tempos
De outros vendavais
De outros cansaços invernais

Apesar disso tudo
As flores ainda crescem
Moldando pequenas grutas
Nos caminhos de xisto
Onde o vento
Decalcou as sombras
Em forma de matagais…

O granito continua
Na força de todas as gentes
Com mãos calejadas
E o doce cantar de Maio
No coração da terra

Onde vão os tempos
No seio das flores
Em todas as calçadas desertas?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Fluxos Migratórios - O resistentes (cont)


João, filho da minha prima Natália e sua esposa Aida

Um casal na casa dos 45/50, emigraram durante um curto período de tempo para a Suissa, tal como os seus irmãos, mas cedo decidiram voltar.

Ele aprendeu a arte da construção civil e enquanto a sua saúde o permitiu, foi por estes locais, que governou sua vida, construindo de raiz, ou reconstruindo as já existentes.



A pedra, de xisto, o granito, é abundante nestas paragens e a sua capacidade de adaptação ao local, faz-se sentir pela forma como os seus olhos desenham traços novos e as suas mãos os modelam, ao jeito de quem sabe que a força é arrancada muitas vezes de dentro para fora. Enquanto isso, e nas horas vagas, a sua esposa trata de alguns trabalhos do campo, com a sua ajuda, sempre que o tempo lhe permite.









As suas filhas emigraram para a Suissa, onde se encontram neste momento

Fluxos Migratórios - O resistentes (cont)





José Marques e Deolinda Paiva

Após o fluxo migratório que levou muitos para vários pontos da terra, desde Brasil e França (com maior incidência nos anos 60), logo seguida de Lisboa, onde os meus pais se incluem.


Os meus pais viveram cerca de 30 anos em Lisboa, mas é na aldeia que estão, desde que decidiram regressar. Muito fizeram pelas suas terras, que sempre cuidaram para que não ficassem de velho.
Ainda hoje quando cá venho me dirijo a alguns locais, onde posso constatar os vestígios das suas mãos ainda quentes, a não deixar que o mato avance e as silvas tomem conta da relva fresca. O meu pai gosta de cuidar das videiras; podar, atar, sulfatar e depois as vindimas. A minha mão foi a primeira mulher na aldeia a quebrar com o mito, de que há trabalhos específicos para mulheres e outros para homens. Assim, a aprendeu com meu pai a podar e a atar as videiras. Lembro um ano em que estava de férias, em que tentei aprender, mas logo desisti, preferindo, deitar-me a olhar o céu, lembrando os tempos de menina, em que ia com o gado para os lameiros e me deitava e rolava na erva.

É em Lisboa, que vivo desde os meus 10 anos de idade, onde estudei, constitui família e trabalho. Surge aqui uma nova geração, a minha, que decide então aventurar-se na busca de melhores condições de vida. Os que ficaram na aldeia, resolvem sair já adultos, e desta feita, é Suissa que os recebe. Continuo sempre que venho à minha aldeia, a tentar saber que é feito desta e daquela pessoa. Uns família outros não, todos se foram, todos eles tentaram sair deste ermo, onde só o vento sabe de todos os caminhos, só a brisa sabe de todos os afagos nocturnos, quando a lua quase nos roça as cabelos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Encontro de novas gerações



Se as gerações vindouras se desligarem das suas raízes, elas serão como um punhado de terra infértil. Se todas as viagens se tornarem objecto de novos olhares, então haverá caminhos que voltarão a se encontrar, no início de uma nova era. Assim se cruzam gerações assim se fazem nomes a vaguear pelo mundo.

Este foi um momento, de encontros de gerações novas, cujas raízes ainda se encontram bem presas junto ao chão que as levantou. Foi um dia diferente para o Tobias e para a Goreti; um casal que se tem mantido unido, pelos laços que nos uniram a todos. Inicialmente o amor, que os juntou, e por fim todas as razões que os juntaram para juntos iniciarem um novo caminho.

O Tobias é um homem nascido na aldeia de Moção, a Goreti uma mulher nascida na aldeia de Desfeita. Assim se juntam pessoas e locais. Marcaram um encontro com todos aqueles que quiseram saborear momentos e partilhar novas vivências de vidas que já marcaram lugar num outro ponto da terra, longe da aldeia e mais perto de um outro estilo de vida na cidade onde nasceram e criaram novas raízes.

Aprecio a sua sempre boa disposição, a sua sempre dedicação, quer à terra, onde nasceu, quer às pessoas. È um grande companheiro que merece toda a minha admiração. Obrigada por proporcionares este encontro entre novas gentes, de gentes da Aldeia de Moção. A Goreti, sua esposa, uma mulher lutadora, possuidora de uma grande sensibilidade, para com o mundo e as pessoas que a rodeiam. Manifestou uma grande afinidade com a palavra escrita e pelas artes em geral, manifestando interesse muito especial pela poesia e pela pintura.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Para o Senhor José Marques

Com um abraço
Para o senhor José Marques
(É claro e sua respectiva família da Aldeia de Moção)


Bom Dia
Boa tarde
Boa Noite
Em qualquer altura
O homem seu AMIGO
Natural da Aldeia da Relva
Quer
Em Poesia pobre
Falar consigo

Agradecer o ter acompanhado
A “Imperatriz “
Poetiza de Moção
Sua filha
Dolores
Ao lugar da Relva
Por mim igualada de aldeia
Gémea
E não me enganei não

Nunca poderei esquecer
A sua visita
E da família que o
Acompanhou
E por isso e por tudo de bom
A agradecer.. aqui estou

Mas o prometido é
Para se cumprir
E qualquer dia aí me tem
Num dia que há-de vir
É só ter em atenção
Que o Aldeão da Relva
Vai ter consigo a
Moção

O almoço pode ser
Simples...
Uma sardinhada
Já que eu na Relva lhes não dei nada
Mas ficará
O verdadeiro maná
Que o Relvense gosta
E em Moção
Eu a ajudar a assar
Ah! “Tio Zé”
Um dia
Em boa companhia
Se passará
(de Adelino Pereira, ao qual eu agradeço)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma visita à aldeia vizinha - Desfeita

Uma visita guiada pela minha sombra neste mês de Agosto. O sol não dava tréguas e os meus passos guiavam-me em busca de algo que me fizesse recordar os meus tempos de criança.

Esta é uma aldeia vizinha de Moção, terra onde nasceu meu pai José Marques.
Uma visita a um homem, José Maria com 87 anos que se encontra com bastante lucidez para me falar de outras gentes, outros tempos da sua mocidade



















O Mês de Agosto



O mês de Agosto é um mês quente por natureza. A natureza, é também uma forte presença nas aldeias da Beira Alta, Em Castro Daire, quer pelo amanho, das terras, quer pela azáfama que se sente na conservação a manutenção das mesmas, sempre que por aqui venho passar algum tempo das minhas férias.

É a rega dos campos de milho, das hortas, das árvores que entretanto se plantaram, enfim de tudo o que precisam para sobreviver. A água é um bem precioso que abunda cada vez em menos quantidade e que leva a que muitas destas pessoas, não descansem para as ir buscar e encaminhar para reservatórios. Há os sinais para seguir; as horas que têm direito a ela, o nascer da estrela, o por da estrela e assim vão andando e por vezes desandando, porque os antigos foram-se e os resistentes, nem sempre estão atentos ao passado que foi um registo das várias águas das nascentes.

Ao fim do dia em conversa, o assunto “água” vem sempre à baila. Ou porque alguém a virou antes da hora prevista, ou porque os reservatórios já não são suficientes para a guardar. A realidade destas gentes , é agora cada vez mais escassa, quanto os anos que vão passando, e a força já não é o que era.

O vento neste mês de Agosto é outro assunto do dia. De noite ele sopra forte, tão forte que deixa todos em sobressalto, quando chegam às terras e se deparam com as culturas destruídas.
- O vento soprou forte esta noite, tão forte que nem me deixou dormir.
disse eu no dia seguinte.
Resposta da minha mãe muito certa do que estava a dizer.
- Já dizia a tua avó Livia, que o vento só se poderia considerar-se forte quando desse três estoiros. E esta noite foi só uma amostra.
Resposta do Domingos
- Pois, pois. Mas quando ele vem forte faz estragos nas terras e muitos. Um ano quando cheguei ao Campo Longo, não havia nada a colher do milho. Todo estendido no chão.
Mas agora com a decisão de povoarem o monte com os javalis, é outra praga que temos por aqui. E pior não se podem matar. Entram e é um ver se te avias. São uma praga pior do que o vento.

Aldeia da Relva

Uma poetiza
Visitou a Aldeia da relva
Em 3 de Agosto de 2010

A aldeia da Relva
Está de parabéns
Pela primeira vez
Uma poetiza
E prosadora
Sem, pompas
Nem circunstâncias
Visitou
A Aldeia da Relva

Não se admirem
com a minha rima
Porque eu quero deixar
Muito ao de cima
O visitar duma poetiza
Sem comentários
E sem vaidades

Indo à Aldeia da relva,
Depois dum breve conhecimento
Visita muito sentida
Na Festa/Feira
De N:S. da Ouvida
Com um ZERO
Que ao vê-la
Essa palavra pronunciou
Por ficar tão agradecido
A dizer a verdade
Aqui estou
Importa o seu nome
Porque se trata duma poetiza
Daqui da região
E muito tem feito
Ao seu jeito
É duma aldeia de nome Moção

Mas de tudo sabe um pouco
E esse pouco ( que é muito)
Sempre quis e quer repartir
Com as pessoas da sua terra
E com as aldeias vizinhas
Parte da sua poesia
Sempre a sorrir

E assim..
Depois dum encontro
Já descriminado
Uma poetiza foi à Relva
Viu, fotografou
Com muita gente falou
E a essa gente
Beleza poética deixou
Sem nunca dizer: eu sou..
Como se estivesse na sua terra
Com o seus entes queridos e família
Que a acompanhou,
Da Relva , Rua central
Bebeu água fria

Apenas eu e família
A poetiza e sua família também
Vivemos o momento
Rico e que ficará na história
Apagada
Porque ninguém
A quem eu disse
Se importou de nada

Mas o que interessa
É manter a promessa
De outras oportunidades
Poderem acontecer
E então depois desta conversa
Os “surdos “ da região
Mesmo com festa
Possam dar mais atenção
À poetiza de Moção

Pela parte do ser ZERO
Que de Onileda se identificou
Ficarão as fotos
Na história
Nas Famílias a memória
Que com bom sentido
Tudo viu
E os acompanhou

Em nome duma resposta apagada
Da idealidade local
Responderei só por mim
Porque foi de facto assim
Entre só nós dois
A “FESTA” planeada
Rimando digo
OBRIGADA

Onileda/3/8/2010
*
Obrigada Adelino pela companhia e por me ter dado a conhecer melhor as gentes da Relva. Parabéns ao Sr. David Ferreira, pelo belo trabalho de escultura em pedra

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Aldeia de Moção...gémea à Aldeia da Relva

(foto Dolores Marques)
*
O destino está marcado...
Ou somos nós que fazemos o destino?
Já não sei o que pensar
Só sei que tudo pode ser mudado
Desde o grande ao mais pequenino
Apenas num simples
Clicar

E assim
Culturalmente
As Aldeias “gémeas”
Relva Moção
Irão ser comentadas

Em Agosto,
Estação do Verão


E recordadas
Por dois seres
Que nem se conhecem ainda
Mas que o viver nas duas é igual
São duas aldeias de Portugal
Onde a crise já chegou
E imigrados
Vivem
Nelas sentem uma saudade
Ainda de isolamento
“Infinda”

Este encontro
Vai servir
Para melhor descobrir
O quanto está retido
Sobre um passado
Sofrido
Tem “peada”
Pelos dois
Da mesma maneira
Vivido

Nesta minha poesia
“Um Nada”
Ao seu lado
É para mim uma união
Da Relva
Aldeia gémea
Com a Aldeia
De Moção

Poeticamente
Com a sua beleza de escrever
E com a minha pobreza
Mas vontade de ajudar
Faremos das nossas ALDEIAS
Um testemunho
E local a percorrer
Pelo menos para
A todos lembrar
Que elas são
Um tesouro
Em plena serra
Mas que vale a pena conhecer

É nelas .. ALDEIAS
Onde o carinho humano está presente
E a sua gente diz o que gente
Em meias Luas
Em quarto crescente
Em quarto minguante
Em todas
As Luas cheias
*
Poema enviado por Adelino Pereira, natural da Relva

quarta-feira, 7 de julho de 2010

dourointeiro disse:

dourointeiro disse...
Embrenhei-me nas montanhas sobranceiras à Paiva ( rio Paiva) a que eu gosto de chamar no feminino) e não sei se venho dos lados da serra de Montemuro ou se me deixei ficar numa das aldeias dispersas pelos montes. Sei que ao ler esta escrita, mergulho nesse mundo rural quase esquecido mas depositário de belezas raras, de cheiros inimagináveis, palco sobrevivente às imensas cenas ali representadas ao longo de séculos. Quase todos partiram deixando a terra ao abandono, quase sozinha nessa luta desesperada contra a desertificação. Há casa abandonadas, ruas inteiras onde só o vento caminha solitário. Há roseiras em beiras que deixaram há muito de ter água, há campos onde o arado não rasga a terra outrora produtora de pão. Há fantasmas a percorrer as noites, sombras de gente que já não mora ali mas deixa o pensamento regressar em busca de um tempo feliz ali vivido. Ás vezes percorro esse espaço para sentir o clamor das saudades, ver de perto, ser testemunha ao menos, da agonia de um país que deixou de honrar-se a si próprio e perdeu as referências maiores da sua história. Se me ponho a pensar em tudo sentado numa pedra à beira da Paiva, é por que por mais que tente encontrar explicação para semelhantes crimes, nada de nada me ocorre perante a realidade que me cerca.Esta é a reflexão que me aparece ao ler este texto, o acenar de cabeça de quem concorda com a escrita. Palavras, são apenas palavras mas têm o poder de despertar a história de um povo.Deixo a serra ou vale onde corre um rio que não é o meu com a certeza que a Paiva, mais hora menos hora, há-de encontrar-se com o Douro e então este rio que é o meu, vai saber de tudo o que se passa nas montanhas.
M. Araújo da Cunha
3 de Julho de 2010 03:46 http://dourointeiro.blogspot.com
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Agradeço-lhe este delicioso comentário ao texto aqui publicado sobre tempos idos e pessoas que o viveram, intensamente

terça-feira, 29 de junho de 2010

Fluxos Migratórios (Os Resistentes II - Lívia Dias Ferreira)

Os Resistentes II - Lívia Ferreira


Minha avó materna, filha de Abílio Ferreira e de Mª do Carmo Dias, regressa do Brasil com apenas 6 anos de idade. É na aldeia de Moção que ela cresce amando a natureza, aprendendo a trabalhar e também a amar a terra. Casa com o meu Avô de nome Herculano de Paiva e passados 3 anos vê-se sozinha. Este é um outro período forte pelas emigrações ocorridas, que levam mais pessoas a deslocarem-se ao Brasil em busca de novos rumos, para a construção de um futuro mais risonho para as famílias que vivem neste ermo, isoladas de tudo e dos meios para atingirem novos conhecimentos da vida. Tinha nascido a minha Tia Ida, e grávida já da minha mãe Deolinda, assim vê partir para terras longínquas o homem com quem casou e por quem esteve apaixonada até á sua morte, corria o ano de 1964. O meu avô por lá ficou, morto no local de trabalho que ardeu e com ele dentro.
Assim aconteceu com outras famílias, quer desta, quer de outras aldeias vizinhas.


É aqui nesta dureza, onde o granito faz mossa, que eu cresço em redor de uma força, que sempre me pareceu normal. Nesta aldeia, as mulheres sempre trabalharam ao lado dos homens e no caso da minha avó, ela tinha o pensar e a força de um homem, pela forma como lutava, para conseguir que as terras não ficassem de velho. Contratava quem as lavrasse e lhe ajudasse nas colheitas, mas todo o trabalho que envolvia a manutenção da terra; a rega, o tratamento dos animais, o estrume para as cortes dos animais, a lenha para a fogueira, era a ela que tudo fazia para que nada falhasse. Ela foi também e a última pessoa a abandonar o trabalho do linho, que eu adorava acompanhar; desde a plantação até à venda na feira, sem deixar de ficar com algum para ela própria fiar e mandar tecer lençóis, colchas, toalhas, etc. Ela negociava a madeira dos pinheiros, o valor porque teria que vender os animais, ela era tudo o que lhe tinha faltado, sem esquecer de ser também o amor, mesmo que há distância. Gostava de se divertir. Não faltava a uma festa e cantava e dançava para mim e meus irmãos, ao som da música de um rádio que ela ligava sempre que chegava a casa.

Faleceu há cerca de 15 anos. Lembro que ao recordarem certos episódios da sua vida, alguns homens das aldeias vizinhas, no seu velório, foram relatando feitos que ainda não sabia. Por altura da guerra que assolou o mundo e por estarmos numa zona forte em volfrâmio, foram feitas muitas extracções, pelo que contratavam pessoas para esse trabalho, das que por aqui viviam. As tarefas eram divididas e pagas consoante a dureza das mesmas. O trabalho mais duro era oferecido aos homens, o outro às mulheres, que se limitavam a limpar e separara os filões do resto dos detritos, que os homens acarretavam das minas. Esta mulher, optou por entrar na mina ao lado dos homens e desempenhar ela mesma, também essa tarefa.

Para além da dureza do trabalho e da vida, ela nunca deixou a sensibilidade fugir-lhe. Considero-a uma verdadeira mulher da terra e uma verdadeira poeta, pelas frases que me dizia e que eu em criança gostava, mas não entendia pela diversidade de carácter com variantes pouco comuns aos dias de hoje. Tudo muda e esta ligação à terra advém de uma força que nos é incutida, mas que se vai perdendo com o surgimento dos tempos modernos.

(“repara que até as pedras da calçada sorriem, para nós….”), disse-me ela num mês de Agosto, sempre que via a aldeia encher-se de gente. Gente também sua que se foi mais tarde para Lisboa, França e outros lugares. Sempre que se aproximavam os meses de verão, via-se no seu olhar um novo renascer para o mundo e para as gentes vindouras. Será que todos o entendem assim? Lamentavelmente, a vida deixa marcas que levam tempo a sarar. Estes sitios isolados do mundo e com uma maior incidência nas tarefas agrícolas, como minifundio, fizeram com que muitas das pessoas, após terem tico contacto com a suposta civilização, querem esquecer os tempos da fome, da miséria e do trabalho árduo que por aqui se desenvolve. Esperemos então para ver o que a vida nos reserva no futuro, e se estes lugares belos e montanhosos a perder de vista, não serão esquecidos e encaminhados tal como as águas a caminhar para o vazio. O rio Paiva passa mesmo lá em baixo. Serão estas águas cristalinas, o testemunho de outras fontes residuais ecarismáticas onde brota o granito, no meio das urzes, dos sargaços e dos pinheiros. Os sobreiros crescem e as oliveiras secam nos terrenos, assim como as videiras. A água é escassa e os resistentes de hoje, lutam sempre que chega o verão para poderem manter o que muitos esqueceram; os terrenos limpos e cultivados.

Iniciou-se há cerca de 40 anos outro movimento migratório. Aí me encontro com a vinda dos meus pais para Lisboa.
Outros pouco mais novos que eu, também se foram, mas desta feita, a Suiça recebeu-os
(Continua)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Fluxos Migratórios desde finais do Séc. XIX


(Fotos, Dolores Marques
*
Os Resistentes I - Abílio Ferreira e Maria do Carmo Dias

Pretendo dar a conhecer alguns casos de pessoas desta e de outras aldeias e localidades a sair para outras terras, outros mundos, indo ao encontro de uma vida mais satisfatória, quer a nível financeiro, quer a nível cultural, (embora este último, ficasse aquém das preferências da grande maioria das pessoas, que viviam sem grandes ambições a este nível, pois o seu interesse era sempre baseado no apego que tinham à terra e ao que dela poderiam retirar para a sua sobrevivência). Lembro mais uma vez a minha Avó Lívia, a minha Tia Glória, a minha Tia Zeca entre tantas outras mulheres, que ficaram só com com a responsabilidade de educação dos filhos sem nunca desistirem, actuando sempre no sentido da preocupação em manter os seus bens e aumentá-los.

Também o número de terras e bens, foram durante muito tempo, a revelação de quem era mais ou menos importante, nas aldeias. Era sinal de riqueza.

Para iniciar estes testemunhos, não posso deixar de falar primeiramente duma história que me é conhecida através da minha família. Irei então começar por escrever sobre Abílio Ferreira e Maria do Carmo Dias, meus bisavós maternos, avós da minha mãe Deolinda Ferreira; emigrantes para o Brasil em finais do século XIX.


Partem para o Brasil no dia do seu casamento. Diz a minha mãe: “Aquilo é que era um homem de ideias fixas, pegou na minha avó no dia do próprio casamento e abalaram para o Brasil, para lutar pela vida”. De facto assim foi, em meados do ano de 1897. Lá trabalharam os dois, para concretizarem os objectivos por eles definidos. Tiveram 5 filhos. Mas contam os mais recentes e que eu conheci, tal como a minha Tia Carmo, irmã da Maria do Carmo Dias (as duas irmãs com o mesmo nome talvez se deva ao facto de serem os padrinhos a escolher os nomes. Daí que a minha tia Carmo que eu ainda conheci era chamada de Carma), que o trabalho deu cabo da sua saúde, e que foi isso que os levou mais cedo desta vida. Regressam ao fim de alguns anos, com os seus cinco filhos, sendo que a minha Avó Lívia era a mais nova. Com seis anos de idade chega a Portugal, e foi nesse mesmo dia guardar o gado para o monte. Contava ela que passou o dia a chamar pelo pai. Aqui tiveram mais duas Filhas: as minhas tias Glória , e Rosalina.

Contam as pessoas que era um homem muito lutador e de poucas falas, embora de uma grande educação e respeitador. Trabalhou muito na aldeia no cultivo das terras que já tinham, adquirindo outras. Conta a minha mãe, que num local chamado Beloutão; um conjunto de terras que existem junto á estrada principal, que nos leva dali para outros sítios, tal como Castro Daire, ele cismou que naquelas terras havia água para extrair e poder então realizar o seu sonho - cultivar e fazer daquelas terras, grande parte do sustento da família. Assim, andou durante uma semana a escavar a terra com uma picareta, construindo uma mina, para que de lá saísse o tal precioso líquido que faz andar o mundo. Ao fim desse tempo, desiludido e quase a desistir assim voltou a casa pensativo. Achava ele que já não havia grandes possibilidades e que talvez se tivesse enganado. (Um facto curioso, é que naquele tempo nem todos tinham acesso à educação sendo que o analfabetismo era um factor forte para que as possibilidades de ascensão a outros trabalhos lhes fosse negado. No entanto mas este Homem sabia ler e escrever, muito bom em matemática, sendo isso que o levou a ser promovido no emprego que teve como emigrante no Brasil). Contudo e voltando à mina…No dia seguinte, teve uma grande surpresa. A água jorrou durante a noite e alagou tudo levando terra e pedras, tal a sua força. Conta a minha mãe que ele todos os dias ia para aquele local trabalhar, pois dali, retirava muito da sustento da sua casa, desde a fruta, a legumes, a vinho, a cereais e até azeite.

Também esta sua neta, minha mãe apesar de ter sido migrante em Lisboa, ficou com este gosto e encontra-se reformada e viver em Moção. Também ela, todos os dias lhe apetece ir por aquelas terras. Plantou até mais oliveiras e arranjou forma com os outros herdeiros, de se construir um tanque para depósito das águas que tanto esforço deram para sair das entranhas da terra.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Quem fui e quem sou eu...(Adelino Pereira)

Nascido e criado na Aldeia da Relva - Monteiras – Castro Daire, descendente de família média vivendo do que as terras davam , dum rebanho de ovelhas e cabras, que pastoreei, atrás duma junta de bois, ali frequentei a escola Primária , 4ª classe inclusive, depois frequentei o Seminário, fiz a admissão à escola Industrial e Comercial Emídio Navarro em Viseu em 1957,estudando de noite e trabalhando em tipografia de dia. Aos 16 anos quis alistar-me como aluno Marinheiro na Armada e desde esse dia 13 de Março de 1961 que a servi até 1988. Cheguei ao ponto onde queria chegar, e o posto máximo devido à idade parou em Sargento Ajudante. Corri o Mundo todo, sempre embarcado em navios. O meu primeiro Teatro foi apresentado em Castro Daire, “O 31” em 1955. Depois em plenos mares e oceanos entretive muitos moradores da mesma” casca de noz.” Nos espaços de folga, o bichinho do Teatro e poesia acompanhou-me sempre em colectividades da zona de Sintra, em marchas populares, em festas de aniversário etc. Presentemente dirijo um Grupo de Animação Cultural e Recreativa – onde o Teatro e o Coral são Reis - Hoje continuo a “brincar” com as palavras e com elas rimando tentando fazer versos .. é a minha poesia... é o meu entretenimento tendo uma vida de reformado.
Estou a escrever em prosa uns rabiscos “ ENSINAR...É DAR TUDO” para fazer uma surpresa à minha Professora que esteve colocada 9 anos nas Monteiras.
Sou um ser cheio de “magia, sonhador, e amigo de toda a gente e babado por poder escrever estas linhas a uma amiga poetiza “filha da terra”, Dolores

domingo, 6 de junho de 2010

A Aldeia de Moção vista por Adelino Pereira

Não me diga que Moção
Está esquecida
Moção está apenas empobrecida
Mas um dia há-de saltar
Para o Mundo admirar
Quem por ela fez
E continua a fazer
Uma terra
De Magia
Onde nela nasceu
Uma poetiza
E sobre ela escreveu
E escreve
Muita poesia


Já fez por Moção
O que lhe ditou o coração
Já fez pela sua terra
O que hoje é a sua Espera
De ano a ano
Para onde “veleja” a todo o pano
Em paz e em “guerra”
Guerra para se fazer ouvir
E assinalar
Que Moção é terra serrana
Mas onde ninguém se engana
Paz para espalhar
Que existe
E em Moção
Quer sempre
Morar
Com Desfeita por perto
Moção é céu aberto
Para Mós, Eiriz
Ribas, Pinheiro,
Casal Bom
Moção é lugar
Onde outros lugarejos
Se podem avistar
Como Ester
Vila Nova
Lomba da Avó
Com estrada com “nó”
Mas à do Avô
Se vai meter


Lomba dos Ferreiros
Reriz
Raso e Covelinhas
Estêvão e Além do Rio
Moção lhe dá o desafio
De que com ela povoação
Esperam o dia da Bonança
Como a de Sá, Rosmil e Lajeosa
Terras do mesmo “tecto”
Mas terras cheias de maravilha
Onde as suas gentes são a maior riqueza
Com o seu viver em harmonia
Isso é a verdade
E mais..
Em Ímpar LIBERDADE

Ervilhal
Outeiro e Amoreira
Juntamente com Adopisco
E outras como Moção
Engrenaldadas
Vivem de mãos dadas
Como poucas em Portugal
Podem estar adormecidas
Do progresso esquecidas
Mas de cada um
São a sua terra Natal
*
Poema enviado por Adelino Pereira, natural da Relva a viver em Viseu


quinta-feira, 27 de maio de 2010

De Seu Nome Mondego


Era natural do Moção
De seu nome Mondego
Raça era Coelheiro
E não lhes dava sossego

Fui eu que o criei
E lhe dei o ensino
E assim o eduquei
Para ele tocar o sino

Em qualquer parte que se encontrasse
Ele que tinha muito tino
Sempre que eu o mandasse
Lá ia ele tocar o sino

Tocava-o no Moção
E também na Desfeita
Fazia-o com tanta convicção
Mas que coisa tão bem feita

Além de tocar o sino com primor
Disso não podemos duvidar
Era um perfeito caçador
E os coelhos ía agarrar

Agarrava bém os coelhos
Vinha-os trazer à mão
Conhecia muito bem o dono
Que o acarinhava com gratidão

Tinha ainda outra codição
Que tenho de realçar
Também era um grande ladrão
Roubava os coelhos aos outros

Para ao dono os levar

Os rapazes das aldeias vizinhas
Que ao Moção vinham namorar
Diziam-lhes que ele tocava o sino
Eles nem queriam acreditar

Pediam-me então a mim
Para o poderem precisar
Queriam vê-lo tocar o sino
E só assim acreditar

Em qualquer parte que se encontrava
Logo que ouvia chamar
Como sempre não tardava
E a meu mando lá o ia tocar

Tudo isto que eu escrevo
É verdade e com o coração
Sou o Ananias Correia
Da aldeia do Moção


Enviado por Ananias Correia

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uivos Famintos dos sem terra, sem pão

(Foto Dolores Marques)
*
Rio aberto
Morada acesa
Cheias de estios
Desgovernadas
Estouvadas
Tresloucadas
Cantam ao vento
O seu novo alento
*
Nas serras
Roubam aos céus
O arremesso
Do voo alto dos falcões
Pardacentos
Malhados e tresmalhados
Exímios na arte
De tão bem saberem voar
Chocalham as pedras do monte
Graníticas no seu pastorear
*
Cajados à solta
Berros que largam ecos pelo chão
Em vez do pregão
Ao tempo
Pelos que vão
Nos uivos famintos
Dos sem terra
Dos sem pão
*
(Poema inspirado nos ainda resistentes que vivem nas terras junto à Serra do Montemuro e se dedicam á pastorícia)



quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quadras alusivas à Senhora da Livração

Senhora da Livração
Santa mãe protectora
Acompanha a povoação
De gente tão trabalhadora

Ela é a mãe de Cristo
Quer se acredite ou não
Sofre com tudo isto
Pelas gentes do Moção

Ela a todos quer valer
Na hora de conflitos
Não os quer ver sofrer
São seus filhos aflitos

Mãe de Cristo e nossa mãe
Ela é nossa protectora
Por nos fazer tanto bem
Obrigado Nossa Senhora

Para saber o tempo que fazia
Os homens olhavam para o Céu
Mas quando passavam por Maria
Tiravam o seu chapéu

Vi-os tirar o chapéu
Também os vi benzer
Naquele olhar, que era o seu
Deviam estar a agradecer

Pela vaca que esteve doente
E de repente ficou curada
Logo agradece o crente
A N. Senhora Emaculada

À Senhora da Livração
Rezo todos os dias
Para me dar protecção
E livrar-me das más companhias.

Quadras enviadas por Ananias Correia, a quem eu agradeço

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Promessas


A imagem de Nossa Senhora da Livração para além de muito bonita é também muito valiosa, pois tem mais de 200 anos, e muito venerada.
Eu recordo-me a partir dos meus 12 anos, que as raparigas do Moção e de algumas aldeias vizinhas, faziam promessas a Nossa Senhora da Livração para que livrasse os namorados de cumprirem o serviço militar e então era vê-las em volta da capelinha, muitas vezes às escondidas, para não darem que falar. Mas também me recordo de pessoas de aldeias bem distantes, como Mós e Eiriz virem ali cumprir promessas. Promessas essas que consistiam em arranjar lá na povoação algumas crianças até ao número de 9 a quem davam cinco tostões, para andarem em volta da capelinha a rezar o terço (novenas) em agradecimento a Nossa Senhora por ter livrado os filhos de irem para a tropa e muitas vezes para que nenhum mal acontecesse aos maridos, que tinham emigrado para o Brasil, para conseguirem o sustento da família, que era a única alternativa, como aconteceu ao teu avô e ao meu pai e a tantos chefes de família da nossa povoação e de outras partes do País, porque cá não havia forma alguma de ter algum dinheiro.
Tenho bem presente na minha memória o mês de Maio em que ao fim de um dia de trabalho, tocava o sino e lá iam as pessoas para a capelinha, em que o meu pai rezava o terço e dizia a ladainha de Nossa Senhora, finalizando com uma leitura própria do mês de Maria.
Mais tarde quando eu tinha 16 anos, coube-me a mim essa tarefa, pois o meu pai teve de ir novamente para o Brasil, de onde tinha vindo há 4 anos. E assim se cumpriu a tradição até que vim para militar para Lisboa. Também me lembro das raparigas, que andavam no bailarico, o que era frequente todos os Domingos, umas vezes com o Elias de Cima, que recordo com muita saudade a tocar concertina, outras com o Constantino de Cabaços e na falta destes lá estava o saudoso Adrianito com o seu realejo, mas nisto tudo o que é mais engraçado era as raparigas a pedirem-me , que também andava no baile para ir tocar o sino mais tarde, que como é lógico queriam dançar mais. A maioria das pessoas do Moção eram muito devotas de N.S. da Livração, que é a padroeira da povoação.

Texto enviado por: Ananias Correia (a quem agradeço), 73 anos de idade natural do Moção e residente no Forte da Casa V.F.Xira

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Páscoa 2010



No dia seguinte, a recolha das canas resultante do fogo posto que inundou caminhos e terras




A visita Pascal, feita pelo juíz da Cruz, que é um rapaz nomeado de cada aldeia por ano e que ajuda o Padre à missa.
Ele vem acompanhado do Padre e de outros, cada qual com a sua função.
Uma curiosidade interessante; este ano vi uma rapariga, fazendo parte do grupo

A entrada do Juíz da Cruz na aldeia, é assinalada por fogo.
Aqui o Manuel está sempre presente, porque esta arte é só para quem sabe e 11 dúzias de foguetes é obra para só um artista



Na capela, de onde se avista o cortejo que deverá sair da Desfeita - aldeia vizinha de Moção, as pessoas juntam-se para o receber e para confraternizar


O tradiocnal folar da Páscoa, as amendoas e o vinho do Porto, não esquecendo o adorno de flores (Camélias), para alegrar a mesa


Camélias
Apesar do frio, lá fora as ávores vestem-se das cores Primaveris


O frio nesta Páscoa, provocou um ambiente acolhedor, daqueles que só o Inverno nos oferece. O estalar da lenha e o cheiro a fumo, que só estes locais sabem transmitir

quarta-feira, 7 de abril de 2010