sábado, 30 de julho de 2016

Amanhecemos

Perto do ponto mais alto
onde só o vento conhece 
a solidez do tempo….
que enche os espaços fechados

Ali no centro do poema
que se agita acima das águas
quando por força de um elemento
a terra lhe treme debaixo dos pés

Não sei até que ponto 
as asas batem livremente
pois se todo o arvoredo 
se despiu do verde da folhagem

Não sei das rimas cruzadas
nos muros xistosos
não vejo os musgos nas eras 
do tempo verde-água

As mãos oprimidas 
por cima dos olhos
buscam novos versos
nas sombras

Porque a noite quase sempre
nos devolve 
os sons das vozes caladas 
dentro de nós...

Amanhecemos !

DM

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Soube de um amor incerto


Trazia comigo o mar
mas nunca a ondulação 
se fez ao meu corpo
de modo a senti-lo 
por perto

Conhecia a força
do vento do Norte
mas nunca cavei fundo
o espaço vazio do templo

Soube de um amor incerto
no caminhar do rio
do arroubo de uma miragem
nos seixos a descoberto

Conhecia o andar do tempo
nas sombras dos montes
nas linhas cheias dos morros
e no minguar das águas

Perseguido é o voo
arrojado das águias
quando com ele falo
como se comigo falasse
volvendo à terra 
um manto agreste

Tais sementes perdidas
nos sulcos ainda secos
onde o vento cumpre 
a promessa
de rasgar com o passado

Dolores Marques