quarta-feira, 14 de abril de 2010

Páscoa 2010



No dia seguinte, a recolha das canas resultante do fogo posto que inundou caminhos e terras




A visita Pascal, feita pelo juíz da Cruz, que é um rapaz nomeado de cada aldeia por ano e que ajuda o Padre à missa.
Ele vem acompanhado do Padre e de outros, cada qual com a sua função.
Uma curiosidade interessante; este ano vi uma rapariga, fazendo parte do grupo

A entrada do Juíz da Cruz na aldeia, é assinalada por fogo.
Aqui o Manuel está sempre presente, porque esta arte é só para quem sabe e 11 dúzias de foguetes é obra para só um artista



Na capela, de onde se avista o cortejo que deverá sair da Desfeita - aldeia vizinha de Moção, as pessoas juntam-se para o receber e para confraternizar


O tradiocnal folar da Páscoa, as amendoas e o vinho do Porto, não esquecendo o adorno de flores (Camélias), para alegrar a mesa


Camélias
Apesar do frio, lá fora as ávores vestem-se das cores Primaveris


O frio nesta Páscoa, provocou um ambiente acolhedor, daqueles que só o Inverno nos oferece. O estalar da lenha e o cheiro a fumo, que só estes locais sabem transmitir

quarta-feira, 7 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Verde Água


Este local situado no centro da aldeia e que serve de passagem a quem chega de fora, passando pelo cruzeiro que deu nome ao local de "Cruz".
Esta água é muito apreciada, pela sua temperatura que se apresenta sempre igual, quer de Inverno, quer de Verão. Fresca o quanto baste e muito saborosa.


A este local o povo designou de "Fonte".

Aqui se lava ainda a roupa e se enche o vasilhame deste puro líquido que faz as delícias de quem passa e e de quem fica, para uns dias de descanso.

Antigamente enchiam-se os canecos de madeira que eram transportados pelas mulheres à cabeça, assentes numa rodilha feita de tecido.
Eu própria tinha a meu cargo esta tarefa. Tentar segurar o caneco na cabeça sem mãos que o segurassem era tarefa de mulher grande, e eu lá ia consdeguindo, avançar na medida que eu sabia e podia.

Crescer é um desafio quando se é pequeno e logo após, novos desafios são lançados para nosso desenvolvimento enquanto pessoas, num mundo que cresce a um ritmo alucinante.

Deste lado o tanque para lavar a roupa, e do outro, um mais pequeno, que serve para os animais beberem.

A água que escorre; quer provocadas pelas chuvas, quer pelo acto de regar, faz crescer estas ervas que dão um colorido interessante às paredes



A água da fonte não se desperdiça. Cai neste poça, onde se vai armazenando para regar.
No fundo da poça (nome dado a estes espaços escavados para o efeito), crescem ervas que vão balaçando conforme a movimentação da água e deixam este reflexo esverdeado na água.


Da serra do Montemuro chegam até nós estas nascentes de água, que de Inverno vão escorrendo pelo barrocos, até chegarem ao rio Paiva. Os designados barrocos, são caminhos antigos que eram utilizados pelas pessoas, servindo de acesso aos terrenos, mas que até hoje se foram cobrindo de mato e de pedras.

Este é um dos vestigios do abandono que se verifica nestes locais, cada vez mais áridos e pedegrosos

Abandono vs Desertificação

A Aldeia de Moção em Castro Daire, sofre de um processo de desertificação há já muitos anos, consequência dos movimentos migratórios que se foram sucedendo ao longo do tempo. Esta deslocação de pessoas que teve início com a abertura de portas de Países como o Brasil e França, levou a que muitas famílias se desmoronassem. Umas pela separação dos cônjuges, que iam em busca de melhores condições de vida para a família, ficando as mulheres com os filhos ainda pequenos, esperando que eles (os maridos), conseguissem ganhar o dinheiro suficiente, para poderem chamá-los para a sua companhia e recomeçarem uma vida nova, (o que em muitos casos nunca chegava a acontecer).





(Minha tia Glória ainda vive em Moção com 89 anos
Foi com imenso prazer que me sentei com ela a mesa para o tradicional almoço da Páscoa)
*
Há casos de mulheres que ficaram responsáveis pela criação e educação de 5, 6 e mais filhos, sozinhas. O trabalho que lhes podia dar algum meio de sustento, era o trabalho árduo da terra, e só assim poderiam fazer frente a uma vida difícil, a par de um clima agreste e granítico, em terrenos montanhosos, como é o caso desta e de outras aldeias pela sua situação geográfica.
Mas estas mulheres, sem nunca baixarem os braços, conseguiram retirar da terra o sustento para elas e para os seus filhos. Nunca voltaram a casar apesar da sua viuvez muitos anos mais tarde, como aconteceu com alguns casos de mulheres que ainda são vivas.(este é um exemplo - a minha tia Glória)
Convivi enquanto criança com essa dolorosa realidade na minha própria família. O meu avô emigrou para o Brasil, deixando uma filha ainda criança pequena (minha tia Ida) e a minha avó Lívia grávida da sua segunda filha, minha mãe Deolinda.
Nunca mais o voltaram a ver. Eu nem o conheci.

No ano em que decidiu voltar a Portugal, morreu queimado no local de trabalho, tinha eu 7 anos


Estas mulheres foram, são e serão sempre um exemplo de grande coragem, pela força demonstrada por elas, sempre que se levantavam de manhã, para mais um dia de trabalho. Lavravam as terras, colhiam mato para estremar as cortes dos animais., semeavam, plantava, regavam, tratavam da lida da casa, dos filhos. (A minha avó como já referi neste neste blogue, para além disso, foi a última pessoa, a abandonar a tarefa do linho).

Hoje os filhos dessas mulheres já aqui não vivem, porque também eles quando chegaram à idade adulta, daqui saíram à procura de melhores condições de vida. Assistimos primeiramente à emigração para França e logo após para Lisboa, onde insiro os meus pais e eu própria.
Daí se verificar este estado de desertificação que se reflecte nas calçadas, nas casas e até no abandono pelos próprios proprietários.

Certo é, que existem ainda por estas bandashá alguns resistentes dos quais falarei mais à frente. Alguns nunca daqui sairam e outros vão regressando, com o seu processo de reforma. Vão-se preocupando em recuperar as casas, apesar do próprio abandono a que estão sujeitas pelas autoridades competentes, no que toca a melhoramentos nas calçadas, e nos acessos difíceis a certas casas que servem de palheiros e arrumos. Muitas destas calçadas e pequenos acessos a casas antigas, encontram-se ainda sem luz eléctrica, dificultando-lhes o acesso, fazendo-os recorrer muitas vezes aos candeeiros de petróleo que se usaram até meados do séc. XX.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Uma viagem a curvas e contra curvas



Quase chegando para um fim de semana diferente - A Páscoa.
Olhando desta parte da estrada já se vêem algumas casas da aldeia que me viu nascer. Moção





Barrocos / Ribeiros

Estes locais existem ao longo da estrada que nos leva a Moção
Aqui da ponte da Ermida, podemos apreciar as diversas rochas que deixam deslizar a água suavemente e se mostram com as diversas fases rugosas, umas e carregadas de musgo, outras. A água vai passando alheia a quem passa sobre a ponte que vem de origem romanica.


Estas águas que se formam em nascentes que existem na serra de Montemuro, passam por estes pequenos ribeiros e /ou barrocos, que se encontram ao longo de todo o trajecto até à minha aldeia.
São águas frias, correntes puras e cristalinas, que vão desaguar no Rio Paiva, que vai passando mesmo ao lado da estrada nacional, que nos leva até Alvarenga e mesmo ao Porto.
Na minha aldeia, existe um ribeiro, com este mesmo nome "Ribeiro". Delimita o espaço existente no caminho qe nos leva a outra aldeia vizinha ("Desfeita" é o seu nome e a terra onde nasceu meu pai José Marques).
Lembro ainda quando a minha avó trabalhava o linho e iamos depositar os molhos da erva arrancada da terra (o linho), para ficarem debaixo da água durante uma semana.
Eram rochas como estas, que serviam para os fixar no fundo dos pequenos lagos.

São estas águas que correm agora com esta abundância que irão fazer falta no verão para regar as terras. Diz a minha mãe que para haver água para regar no verão, terá que chover em Maio

Rio Abaixo, Rio Acima


A estrada que nos leva à aldeia de Moção, tem esta bela paisagem - O Rio Paiva e as suas correntes rápidas, deixando um tom esbranquiçado, contrastando com o verde das margens, que em muitos casos ainda se trata de terrenos de cultivo



No Vale


Veste de branco o teu silêncio
Solta-te com o vento
E deixa um grito no alto
*
Absorve os aromas doces
Que descem sobre a encosta
E colhe um nevoeiro casto

Despe-te de ausências
E nutre-me da suavidade clara
Dos teus olhos soltos
*
Envolve-me nessa nuvem leve
Que sobrevoa o vale
E ouve-me no teu silêncio!
*