quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Esse Lugar


Não estou aqui

Nem sei se vou
Por aí


(Nesse lugar faz frio)

O lugar que sempre
M'acolheu
Está vazio

Não sei de mim
Nem de ti

Não há lugares cativos



(foto; Junto à Ponte da Ermida)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tudo é claro e natural


Aqui nas terras altas
Banhadas pelo Rio Paiva
Onde as águas 
Frias e cristalinas
Sulcam as serras
E as terras férteis
Não existe intimidade
Tudo é claro e natural


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Quem conta um conto


(...)
O rio Paiva, corre silencioso ao fundo por entre os pinheiros e os amieiros. De longe sente-se um pulsar sereno, avivando os montes que lhe conferem um estado ainda virgem. Encontram-se muitos vestígios da passagem dos Romanos, através das  pontes que ainda sobrevivem, como é o caso da ponte Pedrinha à entrada da Vila. Em Grijó, a ponte de Cabaços, dá mostras de que a arte moderna já por aqui passou, com a construção da nova ponte. A ponte antiga, encontra-se ainda a querer sobressair no tempo que lhe deu vida. A cada ano que passa, eu olho-a,  tentando decifrar quantas pedras já foram mergulhar nas águas calmas e transparentes deste meu rio.

Esta foi uma semana com o Agosto quente, o sol quase a querer sair do sitio onde mora, para se firmar no alto do monte, até que as suas sombras atinjam as pedras graníticas da calçada. Estou de visita ao Sr. José Maria, homem na casa do 87 anos, a viver sozinho na aldeia da Desfeita, terra onde meu pai nasceu e se criou. Ouvi dizer que ele conheceu bem a personagem desta história,  que pretendo,  fidedigna pelo que ouvi e tentei recriar, através das minhas próprias lembranças. Falámos de quando eu era pequena, de quando ele me aplicava as injecções, sempre que adoecia. José Maria tinha sido enfermeiro na tropa. Lembrei-o da minha avó Lívia, da minha avó Belmira e do meu avó Joaquim Marques. Lembrou-se quem eu era. Homem pensador, e ainda com muita lucidez para acontecimentos passados. Falei-lhe de João Fernandes e a conversa aconteceu naturalmente, mostrando-me através das suas lembranças, uma certa nostalgia, quer pelo tempo que passou com ele, quer pela vida que foi obrigado a viver, pelas circunstâncias da vida. Uma vida triste dizia-me ele, enquanto se distinguia no se olhar um fio de tristeza que foi direccionado para um ponto lá longe no cabo do monte, onde ele viveu até se ter casado. Diz-me ele após algum tempo: 

Após a conversa com o Sr. Zé Maria e de volta a casa, deparo-me com algumas vivências, que são comuns a muitas outras pessoas que por aqui ainda vivem. Sim, porque o João podia muito bem ser ainda vivo, para que eu própria pudesse ouvir-lhe a viva voz, sobre os seus revezes por terras e Viriato. 
(...)

Quem conta um conto


(...)
Com os pés dentro de água, e o olhar sobre as margens do rio, deixo-me conduzir a certos estilos de vida, e a registos que ainda se encontram em estado quase inalterável, sempre que me foco no modo como vivem ainda algumas pessoas. Parece que o tempo parou e nada se modificou por aqui. O poço dos frades está ainda longe de o poder alcançar, pelo menos por hoje. Faz-se tarde, o sol quase se põe e o cansaço começa a vencer um corpo que já se habituou a um outro estilo de vida na grande cidade. Sei que terei que o encontrar, pois será mais um ponto, a levar-me ao passado, não do tempo em que os frades o visitavam, porque esses foram uma classe á parte, transportando uma outra cultura, talvez oriental para um espaço onde a força dos 4 elementos está sempre presente.

O carro desliza sobre o alcatrão, e apesar de estar já quase a atingir o lusco-fusco, ainda dá para sentir este bafo quente vindo da Serra do Montemuro, trazendo os cheiros característicos das suas flores montanhesas; urzes, alecrim do monte, rosmaninho, giestas brancas e giestas amarelas, piornas, sargaços brancos e sargaços amarelos…etc. Pútegas é um fruto montanhês retirado da raíz do sargaço. Na primavera é quando se pode apreciar este fruto que deixa escorrer um suco meio agreste, meio adocicado, que faz as delícias de quem percorre os trilhos da serra.

Há um tempo para tudo, quando vemos que mais uma noite se aproxima e que trará com ela, nortadas fortes, que por certo,  irão fazer estragos nos campos de milho, mas mesmo assim, a noite vai começar com o encaminhar de novas águas e de novas histórias, de tempos memoráveis. Amanhã será mais um dia, para tentar saber onde e como se movimentou um homem, que não se curvou perante as normas impostas por qualquer ordem religiosa, mas que sendo um filho de camponeses pobres e sem terra, se limitou a este espaço, para tentar sobreviver....


quinta-feira, 29 de março de 2012

Eras



(Doto; D.M. - Rio Paiva)




O tempo escorre
Como o leito
De um rio
Corre para a foz

Indefinição
Que mede
Um espaço
e
O renega
Fraco espírito pedinte
A passar pela
Nova Era
Na espera

Refinado lugar das águas
Atroz
Veloz
Perdido
Sem voz
A cessar
Nas correntes prenhes
Dos detritos
Graníticos da serra
Que não ouve
O uivo do vento
Nem o sente
Senhor
e
Rei

O tempo
É cicatriz
Em ardósia protectora
De um telhado tosco
Assente em barrotes
De madeira de lei

Feito
Ou contrafeito
Movimento interno
Alimentando o tempo
Da mudança
Cravado
e
Estancado
Nos medos grotescos
Nos feitos gigantescos
De todos os tempos
Que eu simplesmente
Não guardei