quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sobre o Linho

Tempos passados e que ao que parece estão a volta. Algumas aldeias já voltaram a esta tarefa de trabalhar o linho.
Lembro o tempo em que a minha avó semeava o linho e as fases porque passava até chegar ao tear para aí ser tecido, ou vendido. Existe uma feira anual do fojo - Serra do Montemuro, onde se ia vender o linho já transformado em fibra. A minha avó Lívia, retirava daí alguma forma de obter dinheiro. Tinha sempre algum linho de reserva que enviava para o tear na realização de alguns panos que mais tarde deram origem a belas tolhas, colchas, feitas pela minha mãe, e que ainda mantenho como recordação. Nos tempos passados, esta era a forma de fazerem os lençóis e colchas para a cama e algumas peças de vestuário. Lembro quando era criança de me deitar em lençóis de linho.

Na minha aldeia, já todas as outras mulheres tinham abandonado esta tarefa, mas a minha avó mantinha a tradição. Era uma mulher dedicada a todos os trabalhos que aprendeu desde que veio com a sua fámília do Brasil e por cá ficou. Os meus bisavós emigraram, mas em determinado período acharam por bem regressar às suas origens. Traziam com eles já uma família formada. Os filhos que tinham nascido quase todos no Brasil, iniciaram aqui uma nova fase - A lida, e o trabalho da terra.
Lembro de entrar no meio do campo semeado com linho e me deliciar a olhá-lo. Linda a sua planta. Cresce em forma de planta fina e no topo ganha uma flor lilás.
Depois de colhido é ripado para se retirar das pontas todas as sementes, seguidamente é estendido ao sol para secar durante alguns dias, após o que se junta aos molhinhos atados e coloca-se debaixo de água.
Para ques os molhos fiquem cobertos com a água corrente do ribeiro, colocam-se pedras, normalmente lousas. Fica aí durante 8 dias até apodrecer a planta. Retirado da água, espalha-se novamente num local solarengo até à sua secagem. É então a partir daqui que ele vai ser trabalhado até ficar pronto para o tear. Eu que acompanhava sempre a minha avó nestas tarefas, para além de ajudar no que podia, aproveitava para mais um dia de grincadeira. Entrava nas águas límpidas do ribeiro e mergulhava até embater contra as rochas graníticas, por onde a água passava lentamente...


Mª Dolores Marques

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Eu e a Lua


Beijo Na face

Olho a lua que brilha
Linda….
Neste azul que anoitece
Entrega-se de corpo cheio
Num beco da noite

Um afago ligeiro
Colhe os gritos contidos
Desta lua que brilha
Na minha janela aberta

Lágrimas escorrem
Nas madrugadas
Acordam-me
Com um beijo na face

E o céu é uma força viva
Que se encosta
Às vidraças
Do meu silêncio

Nos recantos da noite
Chora...
Circulo prostrado diante do céu
Nesta ausência de mim...

Mª Dolores Marques

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Castro Daire

Mapa: Castro Daire (clique para ampliar)
INFORMAÇÃO GERAL A bonita vila de Castro Daire fica alcandorada numa encosta da serra de Montemuro, caracterizada pelo verde da paisagem e pela vegetação abundante. Já habitada no período neolítico, como provam os vários dólmens encontrados na zona, Castro Daire foi utilizada como guarnição militar pelos romanos, que ali construíram uma ponte sobre o rio Paiva. Na vila, são muitas as casas antigas de fachadas elegantes, e o museu municipal exibe uma óptima colecção etnográfica de toda a região.



A cerca de seis quilómetros de Castro Daire, no belo vale do rio Paiva, vale a pena admirar, na localidade de Ermida (Paiva), a igreja românica de finais do século XII, situada na vertente oeste da serra de Montemuro.

Em Soutelo, a recém-restaurada Capela de Santa Eufémia, do século XIII, possui quatro pinturas do século XVII que retratam a vida de Jesus Cristo.

Na freguesia de Mamouros, as Termas do Carvalhal, enquadradas pelas serras de Montemuro e da Arada, oferecem boas instalações ao turista, com hotel e parque de campismo, e as suas águas são utilizadas para tratar diversas afecções.

Ao longo do concelho, pequenas aldeias típicas ainda apresentam o tradicional casario de granito e velhos moinhos comunitários, como é o caso de Gosende.

O artesanato de Castro Daire reflecte o secular modo de vida da população e as suas raízes rurais, com trabalhos em barro negro, tecelagem em linho e lã, tamancos, cestaria de verga e capas de palha.

A gastronomia é suculenta e baseada nos produtos da terra, com destaque para o cabrito no forno, a orelha de porco com arroz de feijão, o presunto fumado, os enchidos e o saboroso pão de milho caseiro.

Isabel Joyce
http://viajar.clix.pt/geo.php?c=107&&lg=pt&loc=Castro%20Daire&oc=Aldeias

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Foral de Moção

O Foral de Moção começa por ordenar que o concelho pagasse 9.734 reais, sendo 7992 pagos em três prestações: em Fevereiro, S. João e S. Miguel, e 1726 reais pagos directamente ao convento da Ermida. O rei manda que se faça nova avaliação e manifesta uma preocupação social referindo-se ao pobres.
Do livro - Castro Daire "Forais Manuelinos" de Adérito Pereira Ferreira

Moção


Também conhecida (Monçam), (Momçaom) (Monçao) ou (Mação) em diversos documentos. O foral refere Monçam. No "cadastro da população do reino (1527) Magalhães Colaço refere "Comcelho de Monçaom" e todos os estes nomes se referem ao Concelho de Moção. Em 1527 o termo do concelho de Moção era composto por mais 10 lugares; Cetos, Desfeita, Mouramorta, Picão, Pereira, Póvoa de Montenuro, Várzea Longa, Vila Seca, e Ribas, além da sede de concelho (Moção). Em termos populacionais, Pereira era o maior lugar, com 27 moradores, Desfeita e Várzea Longa, os mais pequenos com apenas 6 moradores. Em 1517, em Moção, sede de concelho, viviam 17 moradores.
"O Cadastro da População do Reino" refere-se assim aos concelho de Moção:
"Este concelho tem de termo huma legoa em largo e duas em longuo parte e confronta pelo ryo paiva e com o concelho de lafoins e com a vila de Castro dairo e com o mosteyro da Irmida e com o Comcelho do omezio e com o comcelho do roçaom e com o comcelho de frerryras e com o comcelho de parada dester"
Moção é hoje uma pequena aldeia rural, situada na aba da Serra de Montemuro, a cerca de 8 km da sede de concelho a que pertence, Castro daire.
Quem hoje observa Moção tem dificuldade em acreditar que El rei D. Manuel I lhe concedeu foral.
Do livro - Castro Daire "Forais Manuelinos" de Adérito Pereira Ferreira

Breve Referência à Evolução Histórica dos Forais

O foral ou carta de foral era um diploma concedido geralmente por um monarca às terras conquistadas ou às que fundava ou às que se desenvolviam. Estabelecia a forma como se administrarem, mencionava os atributos devidos ou privilégios concedidos aos moradores.
Um foral não podia ser outorgado por um rei. Aparecem forais concedidos por senhorios donatários particulares (da nobreza ou clero), nas terras que haviam recebido dos reis e, em alguns casos sem confirmação régia e por ordens religiosoas, militares ou não militares, detendores de senhorios colectivos. Como exemplo do que acabou de ser dito, temos o foral do Porto dado pelo Bispo D. Hugo, em 1123 e o de Figueiró em 1204 por um tal Afonso.....
(...)
As razões que levaram os nossos primeiros reis a conceder cartas de foral, fundando concelhos ou confirmando os já existentes eram várias; povoar as terras reconquistadas e assegurar a sua defesa; defender o povo das arbitrariedades da aristocracia, obter receitas, recrutar soldados para a guerra....

Do livro - Castro Daire "Forais Manuelinos" de Adérito Pereira Ferreira