sábado, 28 de novembro de 2009

Solidão

*
Seria eu um só rosto
de esperança
um só corpo
a desaguar nos teus olhos
se me visses agora
neste caminho
ao abandono
*
Na minha cidade
há rostos que se curvam
no pó dos caminhos
há bocas famintas
há braços caídos
há invernos tenebrosos
idosos encarcerados
e crianças em carreiros
mal amadas
abandonadas
*
Lá na minha aldeia
há um céu que brilha
há o cheiro a terra
há também a aragem suave
a erva que cresce
o rio que adormece
o alecrim do monte
a dor que se esquece
e mil e uma estrelas cadentes
*
Nesta nossa cidade
eu vejo olhos fechados
casas vazias
ruas enegrecidas
o Tejo que sempre apetece
enquanto olhares
esmorecem
num rio de saudade
*
Se eu fosse à minha cidade
e à minha aldeia
trocaria tudo
por um grão de areia
que voasse
que me libertasse
e que me fizesse sentir
que aqui e lá
o céu é da mesma cor
sempre que algo acontece
no meio da solidão

1 comentário:

nilceia gazzola disse...

Não há lugar no mundo,
que se pareça tal profundo.
Como a alma da imagem.
Otimo blog, sensacional.
Despertou-me desejo de um dia conhecer. Parabens. nilgazzola- Brasil- Echaporã SP-