sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Simbioses Montemuranas


Quando leio sinto, mas ao sentir fecho os olhos para que às escuras encontre pontos de encontro, nas páginas folheadas e impregnadas de aromas. Existe algo de maravilhoso quando se sente a alma limpa de quem escreve. Assim como conseguirmos estar nos lugares percorridos, sentirmos o peso, assim como a leveza dos tempos, passado, presente e futuro. Por fim o autor, a revelar-se, porque não nos é possível escapar a isso.

Eu gosto disso. 
De me desnudar através da escrita. Não tenho receio dessa minha verdade, precisamente por isso, por ser verdade. Prefiro que me avaliem pelo que escrevo, do que por outra forma, que nem sempre é a mais credível, pelo simples facto de termos tendência em nos revermos no outro, fazendo dele um espelho. Talvez por isso, ao longo do tempo fui escrevendo nos sites da internet, com os nomes que já tinha criado para escrever. Mais tarde revelei quem era a tal de ÔNIX, a outra que da pelo nome de Dakini e por fim Epifânia &Ainafipe -estas duas escrevem em diálogo e o trabalho que tenho delas, tem mesmo o título "Ao Espelho".
Mas tudo isto para dizer o quê? Que existe uma reciprocidade nos sentimentos, tal como em tantas outras coisas, quando vos olho, como se isso não fosse nada de novo. Talvez por termos ocupado os mesmos espaços, sentido as mesmas vivências? Não sei! Mas sei que queria dizer-vos poucas coisas e já escrevi tanto. (E há tanto tempo que não escrevia uma carta).

Escrever para mim já se tornou um vício, sei lá, é assim como gostar de comer chocolates, bolos, sobremesas daquelas bem húmidas e igualmente cremosas. Sou tão gulosa! A acrescentar a isto, e por ter deixado de fumar, engordei e sinto-me estranha. Mas não me sinto mal. Sempre gostei de me ver ao espelho, e reparem na personagem que criei para conversarmos as duas.
Mas às vezes canso-me de tudo. 

Estive lá na aldeia. Deitava-me, às 21h30, e às 7h30 já estava na rua. Um dia cheguei a Castro Daire e após beber um café, estava já cansada de esperar pelo movimento das ruas.
Ali, até parece que não existe tempo. Será por estarmos mais perto do céu? Ou por termos uma visão alargada do mundo, quando subimos ao alto da serra e o nosso olhar se multiplica em simbioses múltiplas, e desclassificadas? 
Talvez se encontrem as duas partículas rochosas, enquanto fechamos os olhos numa espécie de meditação profunda.

Dolores Marques

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