quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Opinião de um leitor ao livro "Simbioses Montemuranas"

Filipe Campos Melo escreveu:

Sobre o teu livro, que acabei de ler, e como prometido, umas breves notas:

Entrei na leitura sem ideias pré-concebidas, excepto a noção de que gosto sempre de te ler.
Ainda assim, o registo do livro surpreendeu-me.
É sempre difícil de catalogar um texto (pois todos os padrões são imperfeitos), mas talvez dissesse que é um registo histórico (simultaneamente biográfico - tu, tua família e suas inserções no local – e documental – a terra, a cultura, as “estórias”).
Mesmo sabendo das tuas diversas incursões escritas anteriores (e de seus diversos registos - poesia, reflexões, etc), não estava á espera do que fui encontrar (culpa minha) e, por isso, num primeiro momento estranhei o registo.
Depois, leitura adentro, tudo começou a fazer sentido, em especial quando integrado este livro com o “Uivam os Lobos” que é talvez – um pouco – a versão poética deste teu livro.
Talvez escrevê-lo tinha sido uma necessidade (tua).
Como livro histórico e documental está interessante e conseguido.
Descreves e exploras a cultura e hábitos de uma determinada região, aqui e ali romanceando (como é o caso da história do “João Fernandes” que atravessa todo o livro), aqui e ali com um registo muito íntimo e biográfico (tuas impressões e sensações, que não resistes a “poemar” – e ainda bem).
Nota-se um evidente e meritório esforço de investigação e documentação da tua parte (percebe-se que recolheste testemunhos e revisitaste locais).
Nota-se também a tua especial sensibilidade, quer em alguns textos específicos, quer no tom do
minante (sensibilidade que sempre expressas, de forma particular, na tua poesia).
Tive pena que não explorasses mais a perspectiva da Avó que aguarda o regresso do marido emigrado há muito tempo (seus medos, esperanças e expectativas). Acho que dava, por si só, um belo conto.
Presumo que a estruturação da “narrativa” não tenha sido fácil dada a pluralidade de aspectos que, se percebe, quiseste integrar (a escolha das “estações do ano”, como forma de divisão do texto, foi uma boa solução).
Ainda assim, às vezes, como leitor, senti que me perdia um pouco nessa estruturação (também não sei quanto tempo demoraste a compor o texto - suponho largos meses), mas compreendo que a emoção e vertigem das múltiplas ideias que quiseste incorporar fosse uma limitação.
A revisão e edição gráfica do texto também não me pareceu absolutamente perfeita (problema recorrente destas “editoras”, que nunca ajudam).
Mas, em geral, o texto lê-se bem e de forma agradável.

Em conclusão, estás de parabéns por mais esta tua incursão, tens uma escrita que é sempre cativante.
Tenho a certeza, para quem vive na região, o livro é muito especial.
E que, também para ti, este livro é marcante e essencial, pois é um texto que se sente muito visceral, autêntico e íntimo.
Eu gostei de ler, gosto sempre de encontrar tua escrita.

Filipe Campos Melo

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