quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Filhos das Estrelas

Visionários a tecerem os sonhos no sótão onde arrumaram o sol.
Que sol será este que os acolhe no campo visual de um lugar de arrumos fáceis.
Que lugar ermo é este na palidez dos abraços da lua?
Que filhos serão estes, os da terra?
Quando foi que do céu chegaram as estrelas?
Que esconderão nas mãos os filhos nascidos do ventre do céu?
Que sementes serão estas lançadas à terra e sem água que brote da fonte?
Os mares tumultuosos, à espera do tempo dos náufragos além do horizonte.
Os rios, calados, afogam as tristezas carregadas pelos ventos.
Um instantâneo focado no passado de uma corrente sempre presente no seu momento transitório.
E a corrente convida a descansar os pensamentos, reflectindo a mágica peregrinação do espírito
O que fariam as estrelas se soubessem que poderiam renascer por entre os trilhos dourados e submersos de um rio que nunca se perde?
Por entre granitos e xistos, a corrente convida a descansar os olhos.

E os ventos, tais melodias nascidas no alto da serra, sopram as nuvens em jeito de furacão.
E as orações na capela cantam o tempo das colheitas.
E os braços ceifam o tempo das searas.
E o sino a reboque já sem o timbre de outrora.
Sonhos e mais sonhos riscados nos penedos.
Choros e mais choros colados no sobrado.
E a terra lavrada.
E os filhos da terra sem saberem ler nem escrever...sonham.
Sonham com o tempo dos trovões nas rezas dos lábios.
Sonham com as estrelas que tombaram e por aqui ficaram.

E as searas em chamas
E as levadas secas
E ainda se ouvem as rajadas de um vento a norte a sacudir-se, enquanto os filhos da terra se abrigam junto das estrelas caídas.

Dolores Marques (ÔNIX) /Moção 2017

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