segunda-feira, 28 de junho de 2010

Fluxos Migratórios desde finais do Séc. XIX


(Fotos, Dolores Marques
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Os Resistentes I - Abílio Ferreira e Maria do Carmo Dias

Pretendo dar a conhecer alguns casos de pessoas desta e de outras aldeias e localidades a sair para outras terras, outros mundos, indo ao encontro de uma vida mais satisfatória, quer a nível financeiro, quer a nível cultural, (embora este último, ficasse aquém das preferências da grande maioria das pessoas, que viviam sem grandes ambições a este nível, pois o seu interesse era sempre baseado no apego que tinham à terra e ao que dela poderiam retirar para a sua sobrevivência). Lembro mais uma vez a minha Avó Lívia, a minha Tia Glória, a minha Tia Zeca entre tantas outras mulheres, que ficaram só com com a responsabilidade de educação dos filhos sem nunca desistirem, actuando sempre no sentido da preocupação em manter os seus bens e aumentá-los.

Também o número de terras e bens, foram durante muito tempo, a revelação de quem era mais ou menos importante, nas aldeias. Era sinal de riqueza.

Para iniciar estes testemunhos, não posso deixar de falar primeiramente duma história que me é conhecida através da minha família. Irei então começar por escrever sobre Abílio Ferreira e Maria do Carmo Dias, meus bisavós maternos, avós da minha mãe Deolinda Ferreira; emigrantes para o Brasil em finais do século XIX.


Partem para o Brasil no dia do seu casamento. Diz a minha mãe: “Aquilo é que era um homem de ideias fixas, pegou na minha avó no dia do próprio casamento e abalaram para o Brasil, para lutar pela vida”. De facto assim foi, em meados do ano de 1897. Lá trabalharam os dois, para concretizarem os objectivos por eles definidos. Tiveram 5 filhos. Mas contam os mais recentes e que eu conheci, tal como a minha Tia Carmo, irmã da Maria do Carmo Dias (as duas irmãs com o mesmo nome talvez se deva ao facto de serem os padrinhos a escolher os nomes. Daí que a minha tia Carmo que eu ainda conheci era chamada de Carma), que o trabalho deu cabo da sua saúde, e que foi isso que os levou mais cedo desta vida. Regressam ao fim de alguns anos, com os seus cinco filhos, sendo que a minha Avó Lívia era a mais nova. Com seis anos de idade chega a Portugal, e foi nesse mesmo dia guardar o gado para o monte. Contava ela que passou o dia a chamar pelo pai. Aqui tiveram mais duas Filhas: as minhas tias Glória , e Rosalina.

Contam as pessoas que era um homem muito lutador e de poucas falas, embora de uma grande educação e respeitador. Trabalhou muito na aldeia no cultivo das terras que já tinham, adquirindo outras. Conta a minha mãe, que num local chamado Beloutão; um conjunto de terras que existem junto á estrada principal, que nos leva dali para outros sítios, tal como Castro Daire, ele cismou que naquelas terras havia água para extrair e poder então realizar o seu sonho - cultivar e fazer daquelas terras, grande parte do sustento da família. Assim, andou durante uma semana a escavar a terra com uma picareta, construindo uma mina, para que de lá saísse o tal precioso líquido que faz andar o mundo. Ao fim desse tempo, desiludido e quase a desistir assim voltou a casa pensativo. Achava ele que já não havia grandes possibilidades e que talvez se tivesse enganado. (Um facto curioso, é que naquele tempo nem todos tinham acesso à educação sendo que o analfabetismo era um factor forte para que as possibilidades de ascensão a outros trabalhos lhes fosse negado. No entanto mas este Homem sabia ler e escrever, muito bom em matemática, sendo isso que o levou a ser promovido no emprego que teve como emigrante no Brasil). Contudo e voltando à mina…No dia seguinte, teve uma grande surpresa. A água jorrou durante a noite e alagou tudo levando terra e pedras, tal a sua força. Conta a minha mãe que ele todos os dias ia para aquele local trabalhar, pois dali, retirava muito da sustento da sua casa, desde a fruta, a legumes, a vinho, a cereais e até azeite.

Também esta sua neta, minha mãe apesar de ter sido migrante em Lisboa, ficou com este gosto e encontra-se reformada e viver em Moção. Também ela, todos os dias lhe apetece ir por aquelas terras. Plantou até mais oliveiras e arranjou forma com os outros herdeiros, de se construir um tanque para depósito das águas que tanto esforço deram para sair das entranhas da terra.

1 comentário:

Adelino Pereira disse...

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É enaltecer...
Neste casso
É...
Agradecer,
De forma
Notória,
Uma linda
E Movimentada
História!

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É...
Fazer perdurar
Esses
Bons e maus bocados,
Muito iguais
Ou
Parecidos...
Doutros locais
Que,
Como disse,
Eternizam quem
Os viveu
E
Enaltecem
Quem
Os escreveu!



Obrigada pela contagem dum tempo passado.. para lembrar o futuro...