terça-feira, 6 de abril de 2010

Abandono vs Desertificação

A Aldeia de Moção em Castro Daire, sofre de um processo de desertificação há já muitos anos, consequência dos movimentos migratórios que se foram sucedendo ao longo do tempo. Esta deslocação de pessoas que teve início com a abertura de portas de Países como o Brasil e França, levou a que muitas famílias se desmoronassem. Umas pela separação dos cônjuges, que iam em busca de melhores condições de vida para a família, ficando as mulheres com os filhos ainda pequenos, esperando que eles (os maridos), conseguissem ganhar o dinheiro suficiente, para poderem chamá-los para a sua companhia e recomeçarem uma vida nova, (o que em muitos casos nunca chegava a acontecer).





(Minha tia Glória ainda vive em Moção com 89 anos
Foi com imenso prazer que me sentei com ela a mesa para o tradicional almoço da Páscoa)
*
Há casos de mulheres que ficaram responsáveis pela criação e educação de 5, 6 e mais filhos, sozinhas. O trabalho que lhes podia dar algum meio de sustento, era o trabalho árduo da terra, e só assim poderiam fazer frente a uma vida difícil, a par de um clima agreste e granítico, em terrenos montanhosos, como é o caso desta e de outras aldeias pela sua situação geográfica.
Mas estas mulheres, sem nunca baixarem os braços, conseguiram retirar da terra o sustento para elas e para os seus filhos. Nunca voltaram a casar apesar da sua viuvez muitos anos mais tarde, como aconteceu com alguns casos de mulheres que ainda são vivas.(este é um exemplo - a minha tia Glória)
Convivi enquanto criança com essa dolorosa realidade na minha própria família. O meu avô emigrou para o Brasil, deixando uma filha ainda criança pequena (minha tia Ida) e a minha avó Lívia grávida da sua segunda filha, minha mãe Deolinda.
Nunca mais o voltaram a ver. Eu nem o conheci.

No ano em que decidiu voltar a Portugal, morreu queimado no local de trabalho, tinha eu 7 anos


Estas mulheres foram, são e serão sempre um exemplo de grande coragem, pela força demonstrada por elas, sempre que se levantavam de manhã, para mais um dia de trabalho. Lavravam as terras, colhiam mato para estremar as cortes dos animais., semeavam, plantava, regavam, tratavam da lida da casa, dos filhos. (A minha avó como já referi neste neste blogue, para além disso, foi a última pessoa, a abandonar a tarefa do linho).

Hoje os filhos dessas mulheres já aqui não vivem, porque também eles quando chegaram à idade adulta, daqui saíram à procura de melhores condições de vida. Assistimos primeiramente à emigração para França e logo após para Lisboa, onde insiro os meus pais e eu própria.
Daí se verificar este estado de desertificação que se reflecte nas calçadas, nas casas e até no abandono pelos próprios proprietários.

Certo é, que existem ainda por estas bandashá alguns resistentes dos quais falarei mais à frente. Alguns nunca daqui sairam e outros vão regressando, com o seu processo de reforma. Vão-se preocupando em recuperar as casas, apesar do próprio abandono a que estão sujeitas pelas autoridades competentes, no que toca a melhoramentos nas calçadas, e nos acessos difíceis a certas casas que servem de palheiros e arrumos. Muitas destas calçadas e pequenos acessos a casas antigas, encontram-se ainda sem luz eléctrica, dificultando-lhes o acesso, fazendo-os recorrer muitas vezes aos candeeiros de petróleo que se usaram até meados do séc. XX.

Sem comentários: