sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Metamorfose Montemurana

Coração da Terra
Metamorfose Montemurana

Satisfaz-me saber de um saber antigo, daqueles que todos os ventos trazem quando uivam na noite por serras e serranias, por entre penedos e fundos grotescos do ambiente serrano. Satisfaz-me saber das várias alterações climatéricas que nos trazem novos ventos e brisas, dos quais se soltam novas histórias com mais pés e cabeça, apesar das várias cabeças cortadas com a foice dos enganos.

Os ventos adversos nem sempre trazem acopladas partículas desintegradas do granito. Há dias que se dá a metamorfose proveniente da junção das duas forças rochosas, que nem o xisto e sequer o granito sobrevivem, quando por força das circunstâncias, há lugar a uma nova força que gravita à roda da presumível nova rota dos ventos.

Não me satisfaz saber, que tudo é como o tempo e com o tempo se apaga. Há melodias que são eternas nestes caminhos íngremes, por entre granitos e xistos. O tempo, tal como o vento carrega fardos nunca antes pensados e sequer profetizados pelos profetas que cantavam ao Deus único, e também o único morador do cume da serra. Inteirava-se ele, sobretudo, de todas as maldades e atrocidades dos humanos, quando por força de alguns mediatismos, se interrogavam, se as enxadas, os forcados e até as foices, seriam a única via para se apresentarem como justos, todos os gestos carimbados nas notas de rodapé de um livro virado ao contrário.

Impressionante é também a forma como se vira a mesa, e depois de virada se lhe cortam as pernas para que na próxima refeição, ela seja, não só uma mesa mas um monte de histórias sem a cabeça e sem os pés. Impressionante como se manipulam as refeições colocadas na mesa, a mesma onde trucidaram todas as pernas dos frangos acabados de nascer. Impressionante o mediatismo catastrófico de uma refeição à mesma mesa. Impressionante a forma de muitos virarem os frangos e os colocarem de fato e gravata, e da mesma forma, sentados à mesma mesa.

Aqui na terra dos justos, a justiça nem sempre anda de mãos dadas com os versículos escritos à pressa por mãos humanas. Impressionante... como, querendo, contabilizamos diariamente os pensamentos e os comportamentos "nazis" que nos cercam. Porém com uma nuance ....agora ainda mais enfeitados com as penas do "anjo dos infernos", que entretanto cresceu.

Aqui na terra que é de todos, nem todos se movimentam em prol do bem comum. 
Aqui no planeta azul nem tudo é azul, porque as paletas de cores foram adulteradas com o sangue dos ainda vivos, amedrontados com o poder que vem muitas vezes como um calafrio na espinha.

Os rostos enxangue neste vai-e-vem, onde o granito se desintegrou serra abaixo, e se descuidou num decoro irracional, foram engolidos de seguida sem sequer saberem quem os engoliu. As bocas são muitas e o granito começa a escassear neste ermo em tons ébrios mas distantes de um azul celeste, que também é engolido quando o lusco-fusco chega, e o azul indigo lhe dá conta de um saber que vem de um horizonte acabado de chegar, mesmo ali junto à entrada maior do templo.

Impressionante, como querendo, todos os olhos vêem além do óbvio. Porém, estão todos cegos. Impressiona, que nunca por nunca imaginei um lugar assim com rasgos frontais da memória, a quererem afundar as correntes amontoadas à volta dos olhos. Impressiona este humanismo todo com que se vestem os homens e se deixam nuas as mulheres, todavia, tudo é tão vago e quase um nada, que muitas das vezes o abismo é tudo. Depois, são os braços dos homens a esburacar um túnel que dá conta de mais um templo que na terra cresceu e se desenvolveu. Às vezes dou até comigo a falar com um outro eu que fui criando, enquanto os anjos não desciam dos céus e habitavam o templo.
Era assim um diálogo nocturno, como se a noite fosse o templo que Deus me deu.

Eu sou Dolores Marques, Coração da Terra

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