quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Colheita tardia


Colheita tardia

Foi há sete anos, mas podia ser em qualquer ano, em qualquer lugar, onde tudo se colhe, quando plantado em terra fértil. 
Nem tudo se semeia com a mesma convicção.
Nem tudo se consome com a mesma atitude, nem mesmo a que só a razão conhece.
Nem tudo se adequa ao meio onde uns vivem e outros sobrevivem.
Nem tudo se verga mesmo quando chega o verão. As águas sabem todos os caminhos.
Nem tudo se rega com a mesma devoção, com que se benzem em dias de festa, ou nos dias da missa, e dos pregões.




Nem tudo se vislumbra num horizonte quebrado. Há horizontes onde o numero 7 é o centro para alguns momentos de meditação.
Nem todos os gestos trazem consigo os estigmas de um passado…passado, já que o presente sente e pressente algum tempo ainda em falta.
Nem todos querem chegar aos mesmos lugares; uns são mais altos do que outros; uns são mais pobres do que outros; uns são mais dignos de atenção, e ainda os outros, cujos olhos engordam só com algumas côdeas de pão nas mãos dos pobres. 
Quando as sementes apodrecem nas mãos, os dedos crescem e apontam rostos vadios na escuridão.
 Foi há sete anos, e o número sete é um número bom.

Dolores Marques

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