sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Ecos

Lá fora
no avesso do mundo 
há um rio que deserta 
mas chora num lugar 
sem fundo

(A lua solta-se breve e costumeira
tal orgasmo do sol a colidir com a noite)

Enquanto se espera
pelo som abafado
das pingas grossas
nas vidraças
tudo é a graça
que por sua Divina Graça
une o céu com a terra

Na serra
ainda a lonjura
do tempo
se mantinha acesa
enquanto o sino
se balançava 
irrequieto 
por quanto o som 
traiçoeiro
se adentrar pelas maiores dores
do mundo cá dentro

Por demais extenuantes
eram os seus ecos
vibração, paixão
talvez até comiseração
por um rio perdido
agora por mares tumultuosos
de obrigação 
ou quiçá, pelos altares
onde se ajoelham 
todos os Mestres 
que trazem a bem aventurança
de todos os tempos

(Calados, frios e sombrios
são todos os tempos do mundo)

E ali
somente as águas paradas
recebiam as mãos abertas
para um todo
inseparavelmente cuidado
como se cuidam
todos os sonhos
quando navegam em águas brandas
até à chegada
das novas chuvas
para regarem os campos

Enquanto isso
o sino tocava às almas
e desprezava uma lágrima perdida 
na imensidão do tempo
agora espelhada na pia de água benta

ÔNIX /Dolores Marques, 2016

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