quinta-feira, 16 de março de 2017

Há dias

Há dias que me deixo levar
rio afora. Mas, há noites
que vou gruta adentro, 
nos silvados dos maninhos

É quando os olhos 
me parecem ser dia e noite
no caminho das leiras
junto ao ribeiro de águas frias
e cristalinas

Há dias, que tenho
cheia a boca
com sabores a pólen
de uma flor amarela

Há ainda os dias 
que só o suco agreste
das amoras amassadas
pelos meus dedos
me faz escrever um poema
num dos telhados de xisto

Às vezes, inspira-me 
a ser nua, tal a esfinge 
sempre ousada. Mas, qual 
pedra mal talhada
inerte, calada

Há dias que me apetece
ser um só verso fechado
num penedo a abrir-se
quando inspira a serra
a ser poesia deitada
nas sombras do rio

Há dias que m’impelem 
a ser só um pouco de serra
e mais um pingo de mel
na minha boca

DM

Sem comentários: