sábado, 18 de março de 2017

Hoje trago-vos um sol de primaveras longínquas.

Hoje trago-vos um sol de primaveras longínquas.
Hoje ainda vou a tempo de nos voltar a lembrar do tempo dos olhos abertos à clara luz que enche os espaços fechados.
É sempre tempo do esplendor nos nossos corpos esfomeados.
Há também um tempo a nascer-nos em cada palavra ainda sufocada.
Não me queiram a nomear-nos obras incompletas, quando por morte de um só verso nos nossos pecados.
Ontem clamei pela poesia, e não pelos nomes daqueles que só se enxergam à luz de um nome - POETAS.
Quanto de poeta existe na poesia?
Quanto de poesia existe nos poetas?
Ontem arrefeci as mãos por não saber escrever-vos um poema.
Hoje lembrei dos nomes poéticos que havia esquecido, e por sorte chegaram-me no tempo dos equinócios, que estão para breve nos nossos olhos.
Hoje é um dia diferente, por termos nas mãos os traços ainda verdes das primaveras longínquas.
Hoje quero dizer-vos que deixei as palavras a nascer sobre os olhos todos que trazem as novas flores da primavera.
Acomodei-as ali, para que não sejam simplesmente um monte de letras a bailar nos corpos ainda deitados - Os seus sonhos não são ainda uma janela aberta, porque a noite trancou-lhes o portal do templo das primaveras.
Hoje é um tempo para não esquecer a terra molhada, e os tons pictóricos no alto da serra. Os tojos, os rosmaninhos, o alecrim do monte, e as aves de rapina sonolentas nos seus voos ainda em construção.
Hoje ainda é tempo para dormir, mas amanhã será o tempo do afloramento, do abrir os olhos à luz, que se vislumbra já no ventre da terra.
Hoje quero dizer-vos que trago comigo o renascimento, a verdade dos nossos corpos ainda adormecidos.
Mas, hoje quero ainda comemorar com todos:
- o tempo das sementes lançadas à terra,
- o tempo dos frutos,
- o tempo das melodias que descem a céu aberto, com as primeiras chuvas a correrem pelos campos,
- o tempo das cegadas,
- o tempo da revolta da terra,
- o tempo de um sol na verticalidade dos nossos gestos
- o Tempo dos equinócios todos, dos quais se espera sejam tempos de mudança,
- o nosso tempo, a marcar em cada passo um renascer constante
- que o canto das águas nos seja presente, tal como quando deitados, o nosso cabelo é um vento feito de ervas tenras.
Hoje senti um vento forte no corpo todo. Um vento que não era vento, por trazer no corpo um VERBO em chamas….
(…)
ONIX

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