terça-feira, 19 de agosto de 2008

Maciez de um Luar Singelo

O sol deixa na serra um colorido que se mostra a qualquer olhar.
Aquele novo olhar que se prende à beleza destas serranias, e se estende no meio dos pinhais, absorvendo o odor da caruma que permanece.
Os tojos serenam sob o lusco-fusco e cobrem-se da maciez de um luar singelo e atrevido.
A lua avista-se ao longe, grandiosa, iluminando os caminhos cobertos pelo arvoredo; os sobreiros, os castanheiros, as oliveiras, os pinheiros, os silvados que se estendem sobre as paredes de xisto e largam amoras multicolores sobre os socalcos.
A cor muda agora num ambiente que deixa no ar um cheiro a feno, a braços para o palheiro que o acolhe. Sustento para os animais que bem merecem no final de dia de trabalho árduo.
Ouvem-se os guizos e o toque timbrado das campainhas que vão entrando pela aldeia. As ovelhas e as cabras deixam um rasto nos caminhos; um cheiro a leite e a lã quente e trazem ainda alguns resquíceos da vegetação do monte. Os cordeiros saltitam com alguma timidez enroscando-se na lã abundante que os aconchega, para terem por fim, direito ao seu alimento, mamam com sofreguidão nas tetas avermelhadas e inchadas que dançam ao ritmo do ventre, luzidio. O leite escorre pelos cantos da boca e algumas gotas grossas, deslizam pela calçada.
Atrás vem o dono, que os afasta, obrigando o rebanho continuar a sua caminhada....
Mais um dia que chegou ao fim, e a aldeia cobre-se de um manto negro, onde se podem avistar agora algumas estrelas cintilantes, que brilham a par do luar. Ouvem-se vozes, e as ruas povoam-se agora das gentes que brilham nesta escuridão que passa através do luar.

Mª Dolores Marques

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