sábado, 25 de dezembro de 2021

Poder decadente a renascer nas ruínas de um tribunal

 Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez, porque já perdi a conta às vezes que tive que enfrentar o poder patriarcal, que, infelizmente ainda existe, a vociferar preconceitos machistas e de outras naturezas  diversas, anti-tudo o que possam imaginar. 

Até os novos ventos por Lisboa,  não sabem aínda onde é o seu lugar, não fossem algumas missas na nova arquitetura do templo de Deus, onde escritas, estão as novas Eras.

Não é novidade para mim, esta triste realidade, das  mulheres se amantizarem a este (pre)conceito, limitando o seu mandato a um gesto pouco altruísta, no que concerne aos seus corpos abertos a esta degradante figura  desumana, porque  pouco credíveis são os espermatozóides sem eira nem beira, jogados fora do seu ambiente natural.

Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez, porque já perdi a conta às vezes, que me assumi mulher livre na terra de ninguém, usando e abusando de todos os conceitos expressos através da palavra liberdade, assim como, (e porque escrevo), uso e abuso da liberdade de expressão que me é devida, segundo direitos autorais do grande evento, "Liberdade" que aconteceu  a 25 de abril de 1974. Este evento, para o qual  foram todos convidados,  a grande maioria, apesar de ter saído das estatísticas do analfabetismo, não consegue ter a percepção da verdadeira leitura, e, por isso, manipulam, e simultaneamente deixam que os manipulem em prol de uns parcos versos, rimados ao longo do corpo.  A troca de galhardetes, para o maior evento entre mundos paralelos na arca dos desafetos. 

Além da expressividade expressa nos livros que escrevo, e outros poemas e textos de opinião, publicados na internet, faz muito tempo, são alguns os leitores que me leem através desta via, e, por isso a minha gratidão vai para eles, porque foram estes que me fizeram não desistir muitas vezes, deste caminho feito de poesia.

É mais que sabido, Moção não ser um Lugar que eu pudesse pensar, adepto do meu altruísmo poético, histórico, genuinamente revelando as minhas origens, sempre, através dos meus livros. Este tipo de preconceito, é do mais aberrante que existe, quando por se nascer nu, nos impedem de vestir os trajes da vida e de seguir caminhos feitos de liberdade.

 Este tipo de preconceito não permite que se voe, muito menos sonhe,  quando se nasce numa família humilde ligada à terra, podendo só escrever alguns versos com a enxada, porque  ser mais do que Isto, só se nascesse no seio de alguma família que tivesse ainda guardados  os conceitos do estado novo no baú de um sótão empoeirado.

Teremos que atender à velha máxima, que diz que "santos ao pé de casa não fazem milagres". 

Muitos sabem desta minha vertente ser uma forma de engrandecer a serra do Montemuro,  por consequência, Moção, através de um evento no dia 27 de Dezembro, data do meu nascimento à lareira, cujo fogo chegava da casa de cima. Muitos conterrâneos têm-me  apoiado com um carinho especial, que sinto em cada chaminé fumegante de outras aldeias, sendo por isso, que, "a minha aldeia  é Moção, mas vejo todas elas, com os mesmos olhos".

Há muita miséria escondida nos bolsos, cujas mãos ali enfiadas, não reconhecem a minha capacidade na percepção de muitas coisas, quer pelas diversas manifestações em prol da liberdade em todas as dimensões, quer pelas mensagens escritas nos sonhos. Porque dos meus sonhos sei eu, e neles ninguém dita leis.

Aprendi com a noite, que as estrelas, sendo livres, morrem felizes. 

 Disseram-me, infelizmente,  que não é ainda um marco junto dos marcos que separam as sílabas tônicas, segundo as quais me é possível realçar a  acentuação das palavras com as quais escrevo. No entanto, continuarei a escrever, usando e abusando da liberdade de expressão, assim com da educação que recebi da minha familia, formada maioritariamente por mulheres, que me foram exemplo, dotadas de valores morais e éticos, verdade, honestidade, e sobretudo vestidas com um manto de humildade, seguindo sempre a sua crença em Deus, sendo este o Deus da terra e da humanidade que dele se alimenta.

A minha família, família de grandes mulheres, de luta e trabalho árduo, pela Serra, lutando para que já nesse tempo não ficassem sem terras, águas, e também o seu ser racional, emocional e intelectual, porque apesar do seu analfabetismo, tinham sabedoria inata, que tomara muitos de nós. Que algum líder de rosto escondido por detrás de um monitor, seja homem ou mulher, se atreva a tocar, ou desmoralizar as Mulheres que me educaram, muito menos algumas, imorais, que terão um dia que cuidar dos seus telhados de vidro, que quando tombarem, os jardins de pedra serão o seu tecto ornamentado de urtigas. E como estão muito mais perto do púlpito da falsidade escrita mas paredes da Igreja, que seja leve a sua queda e breve a viagem derradeira.

Aprendi com Lívia Ferreira, e Maria do Carmo, Mulheres que nunca baixaram os braços, e nem se curvaram ao já preconceito contra uma mulher só, como é o caso de Lívia Ferreira. Mulher de garra, vendo o meu avô partir para o Brasil, para nunca mais voltar. Mas esta mulher não deixou terras de velho, lutou para não ficar sem a posse de águas de regadio, esperou ainda a vida inteira pelo regresso de Herculano Paiva, meu avô. Partiu com a satisfação plena do dever cumprido, porém no final da vida, sem poder mais, lá lhe desviarem águas de algumas terras, o então poder autoritário da enxada, em Moção. 

Ao que parece, esse poder, está a renascer para deitar por terra tudo o que serviu de base à sobrevivência de Moção. Têm água desviada das nascentes que alimentavam o rego das levadas. Querem acabar com partilhas centenárias e usos e costumes de um povo. Este poder com adeptos fora da aldeia, através de casamento, que nunca viraram águas nem regaram em Moção, além de uns quantos litros de água benta, também ela tendênciosa, porque até o céu renegam este grupo "amantizado" com um tanque de água, cheio lá da origem das nascentes, sempre a correr até ao rio.


O primeiro livro que li, um romance quando tinha  8 anos, foi-me colocado nas mãos por uma dessas grandes mulheres. Minha tia avó, Maria do Carmo. Esta mulher sem nunca ter frequentado a escola, tinha, no entanto, a sabedoria de uma alma plena de abundância de saberes.


Nao é para mim, surpresa alguma, que Moção queira ressuscitar o estado novo, sob um perfil anónimo manipulando a água e outros elementos que compõem um cenário onde reina a ignorância, e que por isso, insisto em repetir, que a ignorância é o pior de todos os males.

Nao é para mim, surpresa, todo este amontoado de ruínas, por entre os escombros do tribunal de Moção, local propício a heras que se alimentam de um tempo de reclusão, nomeados por um poderio fascista a querer renascer das cinzas.

Não me é nada estranho que este véu enganador os perturbe no seu intelecto, que Deus nem sempre pode mudar o curso dos anonimatos até que sucumbam de vez, e na última pedra do tribunal escrevam os últimos capítulos da santa inquisição, à qual pertencem os dogmas da Santa Madre Igreja, que de feminino, tem pouco, enquanto não cair este patriarcado a vestir os trajes do pecado em cada oração na capela. 

Capela que me é grata pelas novenas à volta dela, e pelo acordar do sono dos Santos quando tocava o sino.

Os homens do mundo pensam ser poderosos, junto com este poder,  e as mulheres à sua sombra repetem os gestos deles num grotesco sonambulismo, que nem dão conta de quando eles entram por elas adentro, e largam ali o último dos pecados. O mundo está tomado por um vírus amaldiçoado. Moção um grão de areia no meio do deserto, seco de miragens e folhagens, já nada é. Nem o foral é marco definindo a sua posição no concelho, agora em alta.

Sossega agora junto à fossa dos dejectos deteriorados, cuja fonte que julga possuir nem sabe bem porque ali foi parar.

Não me é nada difícil entender grupos em matilha, que giram em volta do mesmo conceito da santa madre que os pariu, e que não sendo ateus, entregam tudo ao mesmo Deus do tempo das sementes. Depois, esperando por uma voz do além, que os livre de serem pecadores, escrevem então os mesmos sermões, e oram bem alto lá do púlpito, de modo a ouvir-se bem longe os ecos da sua abundância cristica. Aqui por Lisboa, os ecos já não se parecem com os dos lobos. O seu feminino ganha agora um lugar na cadeira mais perto do altar, da nova inquisição formada na igreja devota deste novo conceito.

 Todos juntos, julgam repetir o milagre das águas. Quão tristes são, que nem o livro das sagradas escrituras se abre a tal engano, na leitura da vida, cuja natureza lhes será madrasta.

Estes falsos apóstolos, não abrem mão, nem do pecado. Tudo lhes é fidedigno nos caminhos das águas, que julgam possuir, e não sabem o legado que estão a deixar às novas gerações, lá longe onde nem se ouve o canto do cuco.



Estão a tentar descobrir a origem da luz nos caminhos do Universo, e nós, ainda a querermos ser donos de um bem essencial que é de todos. Água.


Dolores Marques, natural de Moção

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